Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Governo atua para que Lula também não seja alvejado

Moradora da Penha protesta contra operação policial | Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O Planalto está empenhado em impedir que o presidente Lula (PT) seja a 122ª vítima da operação policial nos complexos de favelas do Alemão e da Penha, no Rio.

Para o governo, ao dizer, na Indonésia, que traficantes eram vítimas de viciados, o presidente abriu caminho para as críticas que recebeu a partir das primeiras horas depois da incursão.

A fala acabou sendo associada à reclamação do governador do Rio, Cláudio Castro (PL), que se queixou de uma não colaboração do Planalto com o trabalho da polícia fluminense.

O governo, agora, trata de tentar mostrar serviço na área de segurança pública sem que isso implique num elogio a uma operação que terminou com o recorde de 121 mortos.

 

Percepções

Na avaliação do Planalto, Castro, no embalo da fala de Lula, conseguiu passar a imagem de que os problemas de segurança do Rio de Janeiro são de responsabilidade federal, e não do governo estadual. Pesa também a percepção de que a esquerda protege bandidos.

Bola pra frente

A maior preocupação do governo é não dar nova mancada. Quer aproveitar o episódio para ressaltar a importância da aprovação da PEC da Segurança, já criticada pelos governadores do Sul e do Sudeste. Tratou também de anunciar colaboração com o Estado do Rio.

Depois de derrotas, oposição tem motivos para comemorar

Senador finaliza proposta que irá para a Câmara | Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Já a oposição comemora a operação e o desgaste do governo federal. A frase de Lula e o ataque ao Comando Vermelho permitiram que algumas vitórias do Planalto — como a recuperação da popularidade do presidente e o encontro amistoso com Donald Trump — fossem momentaneamente esquecidos.

A ordem agora é insistir no velho mote do "bandido bom é bandido morto". As mortes de quatro policiais na incursão reforçaram a dramaticidade do episódio e lógica do nós contra eles.

A bancada da bala sabe que vale apostar na exasperação e na apresentação de supostas soluções fáceis contra o crime.

Explicações

A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, de pedir explicações ao governo do Rio sobre a operação tem potencial para criar alguns problemas para Castro. O trabalho da polícia atropelou acordo fechado com o próprio STF.

Perícia

Pelo ajuste, que amenizou exigências em relação à ADPF 635, o estado teria que preservar locais de mortes de policiais ou de vítimas da atuação dos agentes, e deveria haver perícia imediata. Cadáveres precisariam ser fotografados "na posição em que foram encontrados".

Retirados

Procurada pela coluna, a Polícia Civil confirmou que não foi feita perícia nos locais das mortes. Alegou que, para isso, seria necessária uma outra operação policial, já que traficiantes impediriam o acesso dos técnicos. Ressaltou que corpos retirados por moradores.

Letalidade

A decisão do STF de atenuar exigências da chamada ADPF das Favelas ocorreu depois de uma série de críticas do governo do Estado. O acordo foi acertado em abril, a partir da decisão do Palácio Guanabara de apresentar um plano de redução da letalidade policial.