Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Desde 2020, polícia fez quase 5.500 operações em favelas

Ação da polícia e reação de bandidos geraram caos | Foto: Reprodução

A decisão do Supremo Tribunal Federal que restringiu operações em favelas do Rio não impediu que, desde junho de 2020 e até o último dia 15, as polícias fluminenses fizessem 5.485 incursões nessas comunidades, média de 2,81 por dia. 

Ontem, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), voltou a criticar a decisão do STF na  Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 635: classificou a ADPF de "maldita". Segundo ele, a limitação das ações proporcionou a instalação de muitas barricadas nessas favelas. 

Relação disponível no site do Ministério Público do Rio mostra que, no período, policiais fizeram 88 operações nos complexos do Alemão e da Penha, alvos de grande incursão ontem.

 

Aumento

No início de abril deste ano, o próprio STF, também criticado pelo prefeito Eduardo Paes (PSD), diminuiu as exigências para a realização dessas operações. Desde então, policiais militares e civis fizeram 473 incursões em favelas — a média foi para 2,42 por dia.

Diminuição

Apesar da decisão do STF que flexibilizou a norma anterior, a coluna não encontrou, na página do MPRJ, registros de operações policiais ocorridas nas principais favelas dos dois complexos, localizados na Zona Norte do Rio, depois de abril. A ADPF foi proposta pelo PSB.

Planalto ligou para Castro e pediu explicações

Falta de ônibus fez lotar estações do metrô | Foto: Vinicius Lisboa/Agência Brasil

Um integrante do governo federal telefonou para Cláudio Castro para reclamar de suas críticas, feitas ontem, durante entrevista coletiva, a uma suposta omissão na segurança pública do Rio.

A coluna apurou que Castro reiterou o que dissera aos jornalistas: que o governo havia negado o empréstimo de blindados da Marinha e que isso só poderia ocorrer em caso de decretação de GLO, Garantia da Lei e da Ordem.

O Planalto ressaltou que cabe a governadores pedirem a GLO ao presidente da República: mas, para isso, é necessário que eles reconheçam a indispobibilidade, inexistência ou insuficiência de seu sistema de segurança.

Rejeição

Outro problema é que Lula não gosta de GLO — tanto que não aceitou chamar as Forças Armadas para controlar a intentona de 8 de janeiro de 2023. Na época, foi aconselhado pela mulher, Janja: diante da tentativa de golpe, era melhor não dar poderes aos militares.

Respostas

O governo encarregou os ministros Ricardo Lewandowski, da Justiça, e Gleisi Hoffmann, de Relações Institucionais, de responderem ao governador. Foram aconselhados a irem com calma: o Planalto não quer politizar o caso, mas não aceita que a bomba vá para seu colo.

Reação

A crise está longe de terminar. As mortes de dois policiais militares e de dois civis tendem a gerar reações incontroláveis por parte de integrantes das duas corporações. A chacina do Jacarezinho, em 2021, teve 28 mortos e foi gerada pelo assassinato de um policial civil.

Sem digitais

Outro problema para Castro: informações que chegaram ao Planalto indicam que parte dos 60 mortos pela ação policial teve as pontas dos dedos arrancadas. Isto, para dificultar a identificação dos corpos. Não será fácil a polícia sustentar que todos eram bandidos.