Ambientalistas têm razão de reclamarem das mudanças na legislação, da provável derrubada de vetos do presidente Lula à passagem da boiada do PL da Devastação — mas é importante ressaltar que leis tendem a refletir realidades políticas e, nos últimos anos, a guinada conservadora feriu um pensamento preservacionista que indicava ser majoritário no país.
O discurso ecológico ganhou força nos anos finais da ditadura, quando passou a ser identificado como um dos elemendos de crítica aos militares.
Foram publicadas diversas reportagens sobre crimes ambientais cometidos na Amazônia, no Pantanal, no Cerrado e na Mata Atlântica.
Acumularam-se denúncias sobre casos de devastação, de tolerância com garimpos ilegais, de invasões de territórios indígenas. A luta pela reforma agrária tornou-se bandeira de diferentes setores, a mobilização de agricultores sem-terras ganhou destaque, o movimento chegou a inspirar personagem de protagonista de novela das nove. A percepção social se refletiu na Constituição e em leis de proteção ambiental.
Em 1989, o médico e fazendeiro Ronaldo Caiado lançou-se candidato à Presidência da República como representante da União Democrática Ruralista (UDR). Seu discurso em defesa dos produtores rurais e contra ocupações de terra promovidas pelo MST fez barulho, p resultado foi pífio: ele recebeu menos de 1% dos votos e ficou em décimo lugar.
De lá pra cá, houve um crescimento explosivo da participação do agronegócio na economia, fenômeno com reflexos também na produção artística e no comportamento. Associados a generosos subsídios e incentivos fiscais, os ganhos de produtividade do campo passaram a gerar muita riqueza.
A prosperidade contribuiu de maneira decisiva para uma mudança de imagem da atividade — o antigo caipira deu lugar a homens e mulheres indentificados com o sucesso, com um Brasil moderno, que dá certo e que precisa de mais terras para crescer. Indígenas, sem-terras e ecologistas passaram a ser vistos por boa parte da população como aqueles que tentavam impedir o progresso.
Não deve ser muito difícil para um jovem trocar a perspectiva de viver num num acampamento do MST na beira de uma estrada pelo sonho, ainda que inalcalçável, de possuir terras infinitas, carrões na garagem e avião no hangar.
A renda do agronegócio passou a movimentar a economia de diversos estados, aumentou o consumo, gerou empregos, alimentou sonhos de prosperidade e de crescimento individual. Os novos milionários rurais trataram também de financiar e cultivar políticos identificados com seus interesses.
Pouco importa que queimadas e desmatamentos representem, num médio prazo, a morte da capacidade da terra de produzir: a voracidade de uma elite herdeira das plantations coloniais não permite que seus integrantes pensem em histórias como as que falam no risco de se matar a galinha dos ovos de ouro.
Quaisquer tentativas de criação de limites à expansão das plantações e da criação de gado são apresentadas como manifestações arcaicas, comprometidas com a preservação da pobreza, com o incentivo ao comunismo.
Queiram ou não os ambientalistas, o agro virou pop, passou a ser identificado com a modernidade. Num país tão desigual e com tanta pressa, não é fácil lutar contra um discurso que fala em paraísos logo ali, escondidos por florestas que impediriam o progresso.
A COP 30 tende a ser uma boa oportunidade para ressaltar a importância da preservação e da sustentabilidade, mas não é fácil falar em moderação quando o outro lado acena com uma prosperidade infinita, ainda que frágil e enganosa. A terra é generosa, mas seus limites precisam ser respeitados.