Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Governo jogou pesado pela MP — e perdeu o jogo

Deputado Carlos Zarattini relatou a proposta | Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados

A batalha em torno da MP dos impostos escancarou a estratégia governista de partir para o conflito com o Centrão. A derrota mostrou os limites do Planalto e o acirramento da questão eleitoral.

Respaldado pelo aumento da popularidade do governo, pelos atos contra a PEC da Blindagem e projeto da anistia, pelo início das conversas com Donald Trump e pelo desgaste da Câmara e dos bolsonaristas, o Planalto resolveu pagar pra ver, e ficou no prejuízo.

Na terça, Lula disse que não iria implorar para que partidos ficassem ao seu lado. Logo depois, os ministros Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esporte) declararam que ficariam no governo, apesar da pressão contrária de seus partidos, União Brasil e PP.

 

Abriu o verbo

Diante da possibidade de derrubada da MP, o relator da proposta, o deputado Carlos Zaratini (PT-SP), falou em público o que se costuma dizer nos bastidores: reclamou de quebra de acordo por partidos do Centrão — PP, União e Republicanos — e pela bancada ruralista.

Pressões

Em seguida, o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), foi na mesma linha. Também acusou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de pressionar deputados. Isto, para derrotar a MP, diminuir o caixa do governo e forçar cortes de gastos sociais em 2026.

Planalto foi para as redes; oposição mirou nos impostos

Líder do PL, Sóstenes Cavalcante: contra aumentos | Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

O governo também tratou de acionar sua nova trincheira digital que, pelas redes sociais, publicaram mensagens favoráveis favoráveis à taxação dos BBB — bancos, bets e bilionários. O mote "Congresso inimigo do povo" foi ressuscitado.

A oposição, por sua vez, avalia que acertou ao mirar num ponto que considera frágil do governo, de buscar no aumento de impostos a solução para problemas de caixa.

Recuperou estratégia de janeiro, quando atribuiu a uma sede arrecadatória do governo a decisão da Receita Federal de controlar mais de perto transferências via pix. Isso, na época, fez desabar a popularidade de Lula.

Sem acordo

À tarde, o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP) negou à coluna que houvesse acordo para aprovar a MP. Afirmou que a posição do partido não tinha sido definida. Ele foi um dos 29 deputados da sigla que ajudaram a derrubar a medida (nove foram a favor).

Os alvos

Apesar da disputa acirrada, 68 deputados não votaram; entre eles, nove do PP; oito do União, seis do Republicanos e 13 do PL. Para um petista, as ausências indicam caminhos de negociação: Lula poderá até, em breve, não implorar por esses apoios, mas terá que conversar.

Brecha

Além de registrar a recuperação da popularidade de Lula e de apontar o aumento da rejeição a uma anistia a condenados por tentativa de golpe de Estado, a pesquisa Quaest deu outra boa notícia para o governo: a possibilidade de dialogar com admiradores de Jair Bolsonaro.

Elogios

Dados mais amplos reforçam que a polarização continua muito forte. Mas 26% dos bolsonaristas disseram que Lula saiu fortalecido do primeiro encontro com Trump; 36% afirmaram que as mudanças no IR terão impacto importante em suas finanças.