Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Bolsonarismo engoliu mal o encontro de Lula e Trump

Conversa com americano ocorre em semana decisiva | Foto: Alan Santos/Agência Brasil

O bolsonarismo insiste na versão de que Donald Trump preparou uma armadilha para Lula na reunião de ontem, mas a conversa entre os dois foi muito mal digerida entre os partidários do ex-presidente.

Isso, principalmente porque a semana tende a ser decisiva para o futuro do projeto de redução de penas para condenados por tentativa de golpe.

O tom amistoso entre os presidentes, ressaltado pelo próprio norte-americano, compromete a visão de que os Estados Unidos fariam de tudo para salvar a pele de Jair Bolsonaro.

Líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ) escreveu no X que Trump fez uma "jogada de craque" ao nomear o radical Marco Rubio, secretário de Estado, para negociar com o Brasil.

 

Sem anistia

O problema é que a reunião em si entre os dois presidentes e um possível futuro encontro pessoal derrubam a ideia de a conversa só ocorreria depois que houvesse anistia a Bolsonaro ou o Supremo Tribunal Federal voltasse atrás em sua decisão de condená-lo.

Motivos

Apesar das reservas em relação Trump, o governo acha difícil que ele tenha uma carta na manga contra Lula — teria sido mais fácil deixar tudo como estava. E atribui a mudança a pressões de setores importantes da economia dos EUA e de empresários daqui que investem lá.

Inimigo da esquerda, Rubio não é sub, do sub, do sub

Secretário de Estado cuidará da relação com o Brasil | Foto: Divulgação

Há também uma tendência no Planalto de achar relevante que Trump tenha designado um dos seus mais importantes auxiliares para cuidar das relações com o Brasil. Isso contrasta com o fato de que a embaixada dos EUA em Brasília esteja sem titular desde janeiro.

Um integrante do governo brasileiro ressalta que negociar com o secretário de Estado dos EUA, por mais direitista que ele seja, é melhor do que conversar com "o sub do sub do sub" — como, em 2002, Lula se referiu ao chefe do escritório de representação comercial da Casa Branca, Robert Zoellick, que criticara uma posição do petista, então presidente eleito.

Olho no lance

Animado com a realização do encontro, com o clima cordial entre os dois presidentes e com o post simpático de Trump — que aponta para futuro das relações entre os dois países — o governo agora redobra as atenções. Não quer dar um passo em falso e fazer gol contra.

Alerta ligado

O Itamaraty mantém a cautela de setembro, quando coube ao ministro Mauro Vieira dizer que a conversa então anunciada por Trump na ONU poderia ser remota. Sabe que bolsonaristas vão pressionar o norte-americano ainda mais, e é bom deixar o alerta ligado.

Reflexão

A conversa entre os dois presidentes aumentou o volume das críticas do Centrão — e, mesmo, de uma ala do PL — ao tom radical de, especialmente, de Eduardo e Carlos, filhos de Bolsonaro. Políticos que caminhavam para a oposição, fizeram uma espécie de parada técnica.

Guerra na TV

Primeira presidente da EBC, a jornalista Tereza Cruvinel lança hoje, na ABI, "Memória de um Desafio - A guerra da TV pública e a criação do sistema EBC", livro em que fala dos desafios que encarou. Diz que sofreu "bullying midiático" de muitos veículos de comunicação.