Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Governo comemora vitória, mas mantém desconfiança

Hugo Motta preside sessão que aprovou isenção do IR | Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados

O governo comemora muito a aprovação na Câmara, por unanimidade, do projeto que isenta de imposto de renda quem recebe até R$ 5 mil por mês — mas não acha que o resultado indica o fim de seus problemas com o Congresso Nacional.

O Palácio do Planalto avalia que seria difícil para os deputados recusarem uma proposta tão popular, mas atribui a goleada ao desgaste acumulado pela Câmara em setembro, principalmente ao aprovar a PEC da Blindagem ou da Impunidade.

Desgastada, a Câmara, nas palavras de um petista, precisou "limpar a própria imagem", o que viabilizou um amplo acordo que permitiu a aprovação do projeto e a derrubada de destaques que retiravam a tributação dos mais ricos.

 

Abalo na base

Mas não há ilusões quanto a uma recomposição da base governista no Congresso, abalada recentemente pela decisão da federação União Brasil-PP de romper com o governo. Isto implicará na saída dos ministros André Fufuca (Esporte) e Celso Sabino (Turismo).

Sem virada

"Não houve uma virada", resume o tal petista. Isso, porém, não impede o próprio partido de comemorar vitórias "pontuais e importantes", como a derrota da PEC e a aprovação do projeto do IR e a melhor comunicação do governo, principalmente nas redes sociais.

Revoltado, presidente do Senado reagiu e atacou

Alcolumbre ficou irritado com ameaça | Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Outra vez, o radicalismo bolsonarista colaborou para uma derrota da oposição. Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) ficou irritado com a ameaça feita pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

O filho do ex-presidente citou a possibilidade de o senador ser incluído numa nova lista de punições norte-americanas.

A ameaça ocorreu quando Alcolumbre tentava administrar a pressão por anistia feita na Câmara por integrantes do PL.

Fiel ao estilo bateu-levou, o presidente do Senado tratou de articular a rejeição da PEC da Blindagem, complicou a relação com a Câmara e ajudou na mudança de clima.

Coadjuvante

Alcolumbre também não gostou de ser atropelado quando articulava — com o STF, com tudo — uma alternativa à anistia defendida por bolsonaristas. Tinha a expectativa de ser o protagonista de uma solução menos radical, a proposta de redução de penas.

Bola parada

Ao se sentir caroneado pela decisão do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de votar a urgência do projeto de anistia e articular a redução de penas, Alcolumbre chutou o balde. Não aceita sequer discutir a proposta, que está parada, sem definição.

Pisca-alerta

O governo bate palmas para o presidente do Senado, mas sabe que sua dívida com ele aumentou ainda mais — a conta costuma vir salgada. Trata de manter o bom relacionamento; e de não tirar o olho do projeto do imposto de renda, que pode ser mudado pelos senadores.

Sem salto alto

Para evitar problemas e retaliações por parte da Câmara, Lula ligou para Motta, fez questão de agradecer pela votação do projeto do IR, que classificou de histórica. Tenta não passar a imagem de que está feliz com os escorregões da Câmara e de seu presidente.