A grande aposta entre integrantes da direita é saber até quando governadores de São Paulo, Paraná e Goiás — todos cotados para a disputa da Presidência — conseguirão segurar um discurso sobre o tarifaço que procura manter distância de Lula e de Jair Bolsonaro.

Nos últimos dias, Tarcísio de Freitas, Ratinho Júnior e Ronaldo Caiado têm criticado o governo federal pelo impasse na relação com os Estados Unidos, mas evitam encampar teses e bandeiras bolsonaristas.

Por não falarem em anistia ou em fim do processo contra Bolsonaro, foram criticados por Eduardo, deputado licenciado e filho do ex-presidente — a família não admite meia adesão, quer compromisso absoluto com suas propostas.

Na avaliação de um integrante do Centrão, a agressividade de Trump, o ataque à soberania brasileira e os prejuízos à nossa economia impedem que tais governadores aprovem as medidas anunciadas pelo governo norte-americano. Ou seja, optam pelo muro.

O interesse dos Estados Unidos em terras raras, minerais estratégicos presentes no subsolo brasileiro, piorou a situação para os governadores. Reforçou a percepção, tão presente na população, de que potências estrangeiras querem meter a mão em nossas riquezas.

A questão dos minérios complica a situação de outro governador presidenciável, Romeu Zema (Novo), de Minas, que tem sido mais radical que os colegas. A mineração é uma das principais atividades do estado.

Por enquanto, a tendência do Centrão é de acompanhar quieto as decorrências da crise. Os partidos do grupo têm muito tempo para definirem caminhos até 2026.

Rompimentos com o governo anunciados pelos senadores Efraim Morais (União-PB) e Ciro Nogueira (PP-PI) são vistos como consequências de interesses regionais ou pessoais. Nogueira quer ser candidato a vice-presidente na chapa de direita.

Integrante da base governista, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) decifrou uma aparentemente confusa postagem no Twitter feita por Eduardo Bolsonaro. Entusiasta de Trump, o parlamentar autoexilado escreveu: "É hora dos homens tirarem os adultos da sala".

Silva percebeu que Eduardo não fizera confusão com a frase que trata de retirar crianças de determinado ambiente, mas sim publicara uma crítica a Tarcísio de Freitas. O governador dissera que seria preciso agir como adulto na crise com o governo dos Estados Unidos.

O parlamentar do PCdoB ressaltou que, assim, Eduardo, ao dar "uma de machinho", ampliava a crise "no ninho bolsonarista". Semana passada, Jair Bolsonaro colocou o filho para falar com Tarcísio para tentar amenizar o problema entre os dois. Pelo visto, não deu certo.

Muita gente no Planalto tem procurado dizer a Lula que é melhor evitar novas frases de efeito sobre Trump e a confusão. Ontem, o presidente até que se conteve, mas não resistiu a falar no direito brasileiro de explorar minerais cobiçados pelos norte-americanos.