O ministro Alexandre de Moraes é, veja só, uma das maiores esperanças do bolsonarismo para conseguir sair das cordas e arregimentar apoios no Congresso.

Medidas radicais tomadas por Xandão — apelido do integrante do Supremo Tribunal Federal — tem sido usadas pelo PL para despertar o medo de deputados e senadores: tudo na linha do "amanhã, a vítima poderá ser você".

Tanto que o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), fez questão de ressaltar que mais de 60 parlamentares estão sendo processados no STF.

O PL agirá em duas frentes: retomar a luta pelo impeachment de Moraes e tentar fazer andar a proposta de emenda constitucional que acaba com o foro especial.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) apresentou novo pedido para que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), forme uma comissão iniciar o processo de impeachment do ministro. A chance de a proposta vingar é nula, mas o PL quer fazer barulho.

Um pedido anterior de criação de Comissão Especial contra Moraes havia recebido assinaturas de 36 dos 81 senadores, mas algumas acabaram invalidadas, já que os apoios foram dados por suplentes, que não estão mais em exercício de seus cargos.

Segundo o líder do PL no Senado, Carlos Portinho (RJ), o grupo quer agora obter 41 assinaturas, a maioria dos integrantes da Casa.

Mesmo que a meta — considerada difícil pela oposição — seja atingida, haveria um problema: a investigação precisa do aval de Alcolumbre.

O processo do impeachment de Dilma Rousseff foi aberto pelo então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, depois que o PT se recusou a barrar uma investigação contra ele no Conselho de Ética da Câmara.

Na terça, a Justiça Federal no Amapá autorizou operação contra o segundo suplente de Alcolumbre, Breno Chaves Pinto.

O fator Moraes incomoda o Centrão, mas é improvável que o grupo faça coro a iniciativas contra o ministro — muitos parlamentares preferem não comprar briga como STF. Ex-ministro da Casa Civil de Boslonaro, Ciro Nogueira (PP-PI), não assinou o impeachment.

Há, entre os bolsonaristas, a esperança de que Nogueira, pelo menos, permita que aliados como o senador Dr. Hiran (PP-RR) engrossem a lista dos que querem o impeachment de Moraes. No PL, a ordem é fazer o máximo de pressão antes do julgamento do ex-presidente.

A oposição também trabalha com a expectativa de que as repercussões econômicas negativas do tarifaço de Donald Trump minem os dividentos políticos obtidos pelo governo desde o anúncio das medidas. Vai insistir em responsabilizar o Planalto pela crise.

O prejuízo de empresas brasileiras com as dificuldades de exportação para os Estados Unidos e a demissão de empregados por aqui serão apresentados como consequências de políticas adotadas por Lula — isso, apesar de Trump exigir o fim de processo no STF.