Por: Fernando Molica

Centrão está onde sempre esteve — e não deve sair de lá

Tarcísio é o favorito do Centrão - por enquanto. | Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados

Bolsonaristas e o presidente Lula (PT) têm uma preocupação em comum: não fazem a menor ideia se podem contar com o Centrão.

Uma visão ainda mais radical permite dizer que nem mesmo os partidos que integram esse grupo amorfo, poderoso e não institucionalizado têm muita noção se, daqui pra frente, serão governo ou oposição, ou ambos. Tudo depende.

A edição de ontem da coluna Correio Bastidores mostrou o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL), falando duro com os partidos do Centrão. Disse que, diante das medidas punitivas aplicadas a Jair Bolsonaro, iria reiterar o apelo para que todos deixassem o governo e assumissem que estão com a direita.

Lula e os petistas, por sua vez, não se cansam de conversar, conversar e conversar com o pessoal que ora vai mais pra lá; ora mais pra cá. Entregou ministérios para Republicanos, PP, União Brasil, PSD e MDB — e nada disso tem evitado algumas dolorosas derrotas na Câmara. Esse pedaço da tal base governista é inclinado e escorregadio.

A provável prisão de Bolsonaro e a aproximação da disputa de 2026 ajudam a explicar a angústia da oposição e do governo sobre o futuro desses partidos que, apesar do viés conservador, não chegam a ser de direita, e não são de esquerda — o que não os impede de fazer acordos com o PT.

Dizem que são de centro, uma definição mais estratégica do que ideológica, é improvável que algum deles consiga traduzir essa posição em termos políticos e econômicos.

O problema é que Sóstenes, ao cobrar uma posição do Centrão, quer que os partidos que o integram cometam uma espécie de suicídio, que adotem uma posição e, assim, neguem a sua razão de ser.

A força do grupo existe na sua indefinição, na possibilidade de ir para um lado ou para o outro dependendo das oportunidades oferecidas por um governo ou pela expectativa de poder.

O Centrão pulou fora do barco de Dilma Rousseff não por uma improvável crítica à então alardeada corrupção em governos petistas. Trocou de navio porque percebeu o naufrágio da embarcação em que estava — como diz um grande conhecedor do grupo, o Centrão vai a velórios, chora mortos, segue enterro, mas não pula na cova com ninguém.

Sóstenes aposta na permanência e, mesmo, no agravamento da polarização, elementos que seriam suficientes para fazer o Centrão despertar do berço pra lá de esplêndido onde repousa desde que nasceu.  Para o líder do PL, ficará sem saída quem não deixar claro se é de esquerda ou de direita. 

A questão, porém, é bem mais complexa. Pesquisas mostram que boa parte do eleitorado não se define ideologicamente. Embalado por temas religiosos, morais e até por mudanças no campo do trabalho, o bolsonarismo passou a encarnar uma face importante da direita entre nós, mas não dá pra dizer que todos os seus eleitores têm opiniões firmes sobre liberalismo e diminuição do tamanho do Estado. 

Deputados do Centrão costumam ser eleitos por diversos fatores, e a questão ideológica está longe de ser um desses motivos. Estão no Congresso por representarem interesses diversos e difusos de eleitores, temas muito mais ligados a interesses específicos, paroquiais e, eventualmete, não muito ortodoxos. Jogue fora a primeira emenda parlamentar ao Orçamento quem despreza o valor do toma lá-dá cá na política.

O mais provável é que esses partidos deixem o tempo correr para que, então, possam definir seus caminhos. É preciso ver as consequências da entrada de sola de Donald Trump na política brasileira, saber o que vai acontecer com a popularidade de Lula e, mesmo, com projeto presidencial do governador Tarcísio de Freitas.

Antes da crise do tarifaço havia uma irritação pela insistência do inelegível Bolsonaro em se declarar candidato a presidente; agora, o melhor é renovar o estoque de pipoca e esperar pelo fim do bangue-bangue. Os caubóis do Centrão não costumam ter pressa para escolher seus cavalos.