A decisão do governo norte-americano de incluir o Pix entre eventuais práticas ilegais de comércio fez aumentar as críticas entre integrantes da direita ao alinhamento da família Bolsonaro a Donald Trump.

Para esses políticos, a medida tomada pelos Estados Unidos de investigar o Pix joga no colo do bolsonarismo um problema que era da administração Lula (PT), volta e meia acusada de tentar criar problemas para o método de pagamento implantado pelo Banco Central.

Em janeiro, a popularidade do presidente despencou após o anúncio de mudanças no controle das transações feitas pelo sistema.

"Mexer com o Pix é como xingar a mãe", resume um deputado conservador que pediu anonimato.

De acordo com outro político, ao elogiar Jair Bolsonaro e classificar de injusto o processo contra ele, Trump, na prática, criou uma armadilha para Jair Bolsonaro. O ex-presidente ficou sem poder criticar decisões da Casa Branca que prejudicam interesses brasileiros.

Ao afirmarem que o Brasil deveria anistiar presos e acusados de golpe para se livrar da retaliação norte-americana, o senador Flávio Bolsonaro e seu irmão Eduardo, deputado licenciado, pioraram a situação: deram a Trump o direito de definir pautas de questões internas.

Para o cientista político Alberto Carlos Almeida, Bolsonaro calculou mal as consequências de uma intervenção de Trump na política brasileira.

"Isso mexe com patriotismo, nacionalismo. É complicada a ideia de ter alguém de fora prejudicando o Brasil para favorecer a família Bolsonaro", ressalta.

Autor de "A cabeça do brasileiro", Almeida afirma que os fatos dificultam ainda mais um apoio do ex-presidente a uma candidatura ao Planalto de Tarcísio de Freitas.

Segundo ele, o governador de São Paulo deverá tentar a reeleição, até para não ser obrigado a defender as posições de Bolsonaro.

Para 44% dos ouvidos pela pesquisa Quaest, Lula e o PT atuam de maneira mais correta na crise do que Bolsonaro e aliados (29%). O percentual favorável aos petistas é de 37% entre os que não se dizem de esquerda ou de direita — destes, 20% elogiaram a atuação bolsonarista.

Detalhes da pesquisa revelam que 72% consideram errado que Trump imponha medidas contra o Brasil por acreditar que há uma perseguição a Bolsonaro. Para 57%, o líder norte-americano não tem direito de criticar o processo contra o ex-presidente.

O levantamento mostra que nem mesmo a maioria dos que se dizem bolsonaristas atribui a retaliação dos Estados Unidos aos problemas judiciais do ex-presidente. Para 44% desses entrevistados, as falas de Lula na reunião do Brics é que motivaram Trump.

Outros 36% atribuíram a atitude do presidente norte-americano aos processos contra Bolsonaro (24%), às ações do Supremo Tribunal Federal que limitam a atuação de big techs (7%) e à influência de Eduardo Bolsonaro nos EUA (5%) — 20% não souberam responder.