Por: Fernando Molica

Eduardo aponta o zepelim de Trump para o Brasil-Geni

Eduardo ressaltou o poder bélico e econômico dos EUA | Foto: Reprodução/X

Assim como fizeram os advogados de Lula na época da Lava Jato, Jair Bolsonaro tem o direito de espernear, de buscar respaldo internacional para suas queixas. Mas é preocupante que seu filho Eduardo, ao falar do apoio de Donald Trump ao pai, tenha ressaltado que os Estados Unidos são "a maior potência bélica e econômica do mundo".

Ao fazer isso, o deputado federal licenciado embutiu uma ameaça não ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, ou ao presidente Lula, mas ao Brasil. Fez uma advertência na linha do "olha lá com quem vocês estão se metendo". 

Quando estava preso em Curitiba, Lula recebeu a solidariedade de integrantes do governo argentino, do então presidente boliviano Evo Morales, do papa Francisco e de ex-mandatários de outros países. Mas nenhum desses apoios foi apresentado de maneira a representar alguma possibilidade de retaliação econômica ou militar contra o Brasil.

Semana passada, Lula foi visitar a ex-presidente argentina Cristina Kirchner, colocada em prisão domiciliar e defendeu sua libertação — gesto que pode ser visto como uma interferência indevida na Justiça do país vizinho. Mas ele não disse que a condenação da amiga poderia gerar alguma consequência maior na relação entre os dois países.

Deputado que, pelo menos temporariamente, trocou o mandato recebido dos eleitores por uma campanha de defesa do pai, Eduardo comportou-se como um menino que, ao se ver em apuros com coleguinhas do condomínio, ameaça chamar o irmão mais velho, fortão e grandalhão.

Mais, cometeu um gesto delicado, que indica um sim à — remotíssima, vale ressaltar — possibilidade de intervenção externa em seu próprio país em nome de uma solidariedade ideológica entre Trump e Bolsonaro. 

A atitude de Eduardo é ainda mais complicada diante dos gestos do presidente norte-americano que afetam a economia do nosso país e a vida de estrangeiros que foram para os Estados Unidos tentar melhorar de vida, entre eles, centenas de milhares de brasileiros.

Desde que voltou à Casa Branca, Trump tem demonstrado que pouco se importa com o resto do mundo, que quer defender apenas interesses de seu país. O presidente norte-americano não tem economizado palavras e gestos na caça às bruxas direcionada a nações que buscam um comércio mais equilibrado, que lutam pela prosperidade de seus cidadãos.

Ao ressaltar o poderio bélico e econômico dos EUA, Eduardo tomou para si a tarefa de fazer o que os norte-americanos historicamente chamam de "mostrar a bandeira" em casos em que seus interesses ameaçam ser contrariados por outros países. 

Experientes nessa história de intervir em territórios alheios, sabem que, muitas vezes, não é preciso sequer usar o grande porrete. A exemplo do comandante do dirigível de "Geni e o zepelim", música de Chico Buarque, basta mandar um porta-aviões para o litoral do inimigo e, no alto do navio, hastear a bandeira de listras e estrelas: algo suficiente para alertar para a destruição capaz de ocorrer caso o desafiante do Tio Sam não enfie o rabo entre as pernas.

Até as emas cloroquinadas do Palácio da Alvorada já ouviram falar do poder norte-americano. Qualquer negociação com os Estados Unidos tem como pressuposto o fato de que os caras mandam muito, são capazes de bagunçar a economia alheia  que, no limite, podem destruir a grande maioria dos países. 

Mas é muito feio quando Eduardo, deputado federal escolhido por parcela importante do eleitorado brasileiro, toma a iniciativa de ressaltar que o amigo de seu pai tem, como na letra da canção, dois mil canhões e que, se assim decidir, pode mandar jogar muita pedra no Brasil-Geni. Isso, caso nossas instituições não façam o que ele acha que deve ser feito.