Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Derrotado no Congresso, Lula retoma polarização

Presidente foi a evento em favela paulistana | Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

A derrota do aumento do IOF no Congresso foi fundamental para o presidente Lula assumir o discurso de que seu governo trava uma batalha em defesa dos mais pobres contra os ricos.

Até agora, ele evitava a polarização que marcou os primeiros anos do PT.

Na avaliação do Palácio do Planalto, a votação da última quarta-feira ressaltou a deterioração das relações com o Legislativo e mostrou que o governo precisava tomar uma atitude para sair do canto do ringue.

No dia seguinte, o perfil de Lula no Instagram publicou uma história em quadrinhos em que um personagem negro diz para um amigo, branco, que o governo não está aumentando impostos, mas fazendo "justiça tributária".

 

Novo foco

Levamentos feito pelo Planalto revelaram que o aumento do IOF teve impacto negativo, reforçou a ideia de que o governo só pensa em taxar a população para resolver seus problemas. O discurso de ricos contra pobres tenta mudar o foco da discussão.

Equilíbrio

Há também a convicção de que a tolerância com as traições de partidos do Centrão que comandam ministérios fragilizara Lula e o tornara refém do Congresso. O endurecimento do discurso é uma tentativa de mostrar força e de buscar um equilíbrio com o Legislativo.

Sóstenes Cavalcante: governo quer posar de bonzinho

Para líder do PL, Planalto não mete medo | Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados

Líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ) diz não temer a reação do Planalto de culpar a oposição pela crise e de pegar carona com a derrubada dos vetos presidenciais aos "jabutis" que encarecerão a conta de luz.

"O governo negociou a derrubada dos vetos e fica posando de bonzinho. Uma parte da imprensa resolveu nos colocar de vilões. Já que é assim, seremos vilões ao quadrado", provoca.

Para ele, o resultado da votação do IOF está relacionado a dois fatores principais: o não pagamento de emendas parlamentares obrigatórias e o que classifica de "associação" entre o Planalto e ministros do STF.

Cortes

Apesar de a oposição insistir que a administração federal precisa diminuir despesas, e não aumentar impostos, Sóstenes frisa que a decisão de cortes cabe ao Planalto. "Quem executa o orçamento não é o Congresso, mas o governo, que não sabe dialogar", alega.

Anistia

Sóstenes afirma que ouviu do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a promessa de que o projeto para libertar condenados pelo 8 de Janeiro será apresentado e votado antes do recesso de julho. O líder do PL ressalva que não desconhece detalhes do texto.

Engano

Deputado do PSD, Hugo Leal (RJ) votou contra o projeto que derrubou o aumento do IOF. Mas ele diz que era favorável à proposta, e errou na hora de digitar sua opinião. "Eu segui uma orientação da votação anterior, e estava em reunião em Itaperuna (RJ) na hora", alega.

Dono da bola

Parte do PT fluminense não esconde a simpatia pela pré-candidatura de Rodrigo Bacellar (União) ao governo estadual. O motivo é simples: Eduardo Paes (PSD), que deverá ter o apoio oficial do partido de Lula, é tido como alguém que concentra poder e benesses.