Partido dono da maior bancada na Câmara, com 90 representantes, o PL é também o que mais tem deputados no exterior: Carla Zambelli e Eduardo Bolsonaro (licenciado). Em 2022, ela foi a segunda mais votada em São Paulo; ele ficou em terceiro lugar.
Na eleição, Eduardo e Zambelli foram escolhidos por 1.687.945 eleitores, tiveram, juntos, 7,1% dos votos válidos para o cargo. O suplente do 03 de Bolsonaro, Missionário José Olimpio, recebeu 61.938 votos; o dela, Coronel Tadeu, 61.546. Eles ficaram com 0,52% das preferências.
Dar no pé é uma prerrogativa inalienável de qualquer pessoa que corra o risco de ser presa, mas, no caso de políticos que atuam numa democracia, a situação é um pouco mais delicada. Eduardo sequer era investigado no caso da tentativa golpista quando resolveu se mandar para os Estados Unidos e pedir interferência do governo estrangeiro em questões internas brasileiras.
Seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, segue a mesma linha. Em evento, semana passada em Fortaleza (CE), ele falou em certeza de uma vitória, "com ajuda de Deus e também com ajuda de outro país lá do norte". Em seguida, reforçou que precisaria de uma mãozinha de "terceiros".
Ao rogarem por uma intervenção norte-americana em seu próprio país, Eduardo e Jair cometem um gesto só comparável a uma das maiores mancadas políticas brasileiras, cometida em 1946 pelo então senador Luís Carlos Prestes, do Partido Comunista Brasileiro.
Ele caiu feito um patinho numa provocação, uma pergunta sobre de que lado ficaria numa eventual guerra entre Brasil e União Soviética. Ele lembrou que franceses e italianos tinham se unido aos soviéticos contra o nazifascismo, que não admitiria uma "guerra imperialista" contra a nação comunista.
Concluiu dizendo que pegaria em armas para resistir a um governo brasileiro de viés fascista — ou seja, ficaria ao lado da URSS. A declaração seria usada como pretexto para devolver o PCB à ilegalidade.
Zambelli tinha acabado de ser condenada a dez anos de prisão por invasão de sistemas de informática e pela adulteração de documentos do Conselho Nacional de Justiça, a decisão foi tomada de forma unânime pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal. A condenação não foi por um motivo alheio ao seu mandato, mas por um crime cometido dentro da lógica política que sempre lhe serviu de guia.
Sua fuga demonstra covardia e incapacidade de aguentar as consequências dos atos que cometeu. O que ela fez seria crime em qualquer lugar do mundo, não há como alegar perseguição da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral de Justiça ou do STF.
Pior, atos de lideranças políticas tendem a servir de exemplo e de estímulo para que cidadãos comuns tomem atitudes destemperadas, como no 8 de Janeiro. São pessoas que, diferentemente de deputados, nem sempre têm condições de tirar o corpo fora na hora em que o bicho pega.
Em 29 de novembro de 2022, Zambelli gravou e divulgou uma mensagem em que estimulava as Forças Armadas a impedirem a posse de Lula, presidente eleito: "Dia 1º de janeiro, senhores generais quatro estrelas, vão querer prestar continência a um bandido ou à nação brasileira? (...) É hora de se posicionar. De que lado da história vocês vão ficar?", perguntou.
Parafraseando uma das citações mais manjadas da literatura universal, políticos são eternamente responsáveis por aqueles que cativam, que viram seus seguidores.
Ao pegar o avião e se mandar do Brasil, Zambelli fez como o personagem Marco Aurélio (interpretado por Reginaldo Faria) na primeira versão de "Vale tudo": no último capitulo da novela, ele, a bordo de um jatinho, deu uma banana para o Brasil. No caso da deputada, o gesto foi em direção aos seus eleitores.