Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Isenção de impostos favorece até pintos de um dia

Venda e importação de pintos é isenta de tributos | Foto: Wikimedia Commons

A reação ao aumento do IOF mostra que a sociedade, atenta a esse tipo de investida do governo em seu bolso, pouco reclama de bancar o imposto que muitos têm o direito de não recolher.

Balanço do Ministério da Fazenda mostra que, entre janeiro de 2024 e abril 2025, diferentes setores da economia não pagaram R$ 414 bilhões em impostos federais — R$ 25,8 bilhões por mês. Com o novo IOF, já devidamente desidratado, a arrecadação deve chegar a R$ 20 bilhões este ano.

Os favorecidos frisam que as medidas reduzem preços, mas o custo é bancado até por quem não consome tais produtos. A isenção favorece até pintos de um dia — sim, filhotes de galinha (R$ 904 milhões de incentivos fiscais no período).

 

Importados

A lista de beneficiados é interessante. Além dos pintinhos (usados para melhoria de material genético), inclui passagens áreas, aviões e suas peças, produtos importados via Zona Franca de Manaus, setor de eventos e atividades e suprimentos ligados ao agronegócio.

Voos alheios

Nesses 16 meses, os impostos de todos os brasileiros foram usados para compensar os valores que, legalmente, deixaram de ser pagos. Mesmo quem não viajou de avião ajudou a bancar os voos alheios, o que representou R$ 1,98 bilhão em renúncia fiscal.

O peso da agricultura nos benefícios fiscais

Cultura de soja é das mais subsidiadas | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O agro é pop e tem peso decisivo na balança comercial brasileira. Mas o subsídio ao cultivo e venda de produtos que, em grande parte, servirão para alimentar animais no exterior pesa no bolso de todos nós.

Só a comercialização da soja custou, no período, R$ 5,9 bilhões — na média, cada um de nós contribuiu com R$ 28,00.

Somados, os subsídios à compra de adubos, fertilizantes, agrotóxicos, sementes, mudas e produtos agropecuários gerais alcançaram R$ 77,370 bi.

A lista de isenções inclui produtos que consumimos no dia a dia, como carnes, queijos, peixes e até papel higiênico (neste caso, R$ 2,2 bilhões).

 

Estrangeiras

Os dados citam empresas beneficiadas com os impostos que pagamos por elas. A campeã, com R$ 16 bi, é Dairy Partners Americas, DPA, que atua em alimentos e foi comprada pela francesa Lactalis. A Honda e a Samsung deixaram de pagar, cada uma, quase R$ 10,5 bi.

Outras da lista

A brasileira JBS é a quarta da lista, com benefícios que chegaram a R$ 4,9 bi. Depois vêm outras multinacionais, Yamaha Motors, LG e a Syngenta, fabricante de produtos químicos de origem suíça. Entre as aéreas, a TAM deixou de pagar R$ 2,5 bi; a Azul, R$ 2,4 bi.

Benefícios

Prorrogada pelo Congresso, a chamada desoneração da folha de pagamentos fez com que empresas de 17 setores deixassem de pagar R$ 22,2 bi para a previdência. Graças ao Perse, programa que beneficia eventos e turismo, o setor foi beneficiado com R$ 20,5 bi.

Marina

As provocações no Senado à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, tiveram o objetivo de tornar ainda mais desconfortável sua posição no governo, que tem passado a boiada sobre causas que ela apoia. Mas, até por falta de opção política, Marina deve ficar na pasta.