O governo confia que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), colocará a CPMI do INSS na mesma geladeira em que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), guardou o pedido de urgência para o projeto de anistia.

Para ser instalada, uma comissão mista de inquérito precisa ser apresentada em sessão conjunta do Congresso Nacional, o que depende de convocação por Alcolumbre — ele não tem prazo para tomar esta providência.

Em 2021, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), então presidente do Senado, levou quase três meses para instalar a instalação da CPI da Covid. Só fez a leitura do requerimento depois de obrigado pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal.

O Planalto sabe, porém, que o favor de Alcolumbre não sairá de graça, que o presidente do Senado vai exigir ser recompensado. Deve subir ainda mais o sarrafo relacionado à nomeação de diretores de agências reguladoras, que precisam ser sabatinados por senadores.

Padrinho de indicações para agências na área de energia, Alcolumbre não aceita nomes apresentados pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Para pressionar o governo, não marca sabatinas nem para o preenchimento de cargos em outras agências.

O presidente Lula espera resolver as pendências e liquidar as faturas na viagem para Rússia e China, prevista para ser iniciada na noite de ontem. Alcolumbre e Silveira fazem parte da sua comitiva.

Os descontos irregulares de segurados do INSS não começaram no atual governo, mas Lula não quer saber de CPI, tradicional arma da oposição. Avalia que será o maior prejudicado mesmo com a apuração, pelo Congresso, de crimes cometidos durante o mandato de Jair Bolsonaro.

Para tentar barrar a pressão bolsonistas, o Planalto vai insistir que não faz sentido instalar CPI se a Polícia Federal tem feito seu trabalho.

O filho de um nonagenário descobriu ontem que desde abril de 2024 o Cebap, Centro de Estudo dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas, desconta R$ 45,00 mensais da aposentadoria de seu pai. A entidade é uma das investigadas pelo roubo de segurados do INSS.

Em contato com o Cebap, o filho exigiu o fim dos descontos e a devolução do dinheiro. Um funcionário disse ter feito o cancelamento da suposta adesão mas disse a grana não seria devolvida porque o segurado tivera acesso a "benefícios" oferecidos pela entidade.

Diante da exigência de apresentação de um comprovante da decisão do pai de aderir à entidade, o funcionário deixou de responder. Em 2022, no governo Bolsonaro, o Cepab ganhou do INSS o direito de descontar 2,5% de aposentados ao longo de cinco anos.

O acordo foi feito em 23 de dezembro, nove dias antes de Bolsonaro deixar o governo. Em janeiro de 2024, com Lula no Planalto, Andre Paulo Fidelis, pelo INSS, e Edmar Policarpo Júnior, pelo Cepab, assinaram um termo aditivo e o desconto passou a ser de R$ 45,00.