Integrantes da mais nova federação partidária, filiados ao União Brasil e ao Progressistas têm diversos motivos para divergir entre si — nenhum deles, porém, ligado a programa de governo ou a visões de Brasil.
Fiéis à tradição da maioria de nossos partidos, as duas agremiações não primam pela discussão de questões ideológicas ou de projetos nacionais, têm o objetivo principal de chegar ao poder: de um modo geral, associadas a outros partidos, não importa se de direita ou de esquerda. Miram também as pra lá de generosas verbas destinadas ao financiamento da atividade política e eleitoral.
Fazem parte de um grupo que reúne também o MDB, o Republicanos, o PSD e outros de menor expressão, como o outrora poderoso PSDB. Alguns deles ainda procuram se definir como de centro, um viés ideológico que se apresenta mais pelo que não é do que pelo que diz ser.
Ao tirar a palavra direita de dentro do armário e mostrar a força eleitoral desse campo, Jair Bolsonaro abriu caminhos para políticos que, enfim, tiveram coragem de afirmarem que cultivavam posições conservadoras.
Esse conservadorismo, porém, é, na prática, mais vinculado à tradição de ligação com o poder do que a posições ligadas, por exemplo, à defesa do liberalismo. Ainda mais num país em que liberais cresceram à sombra de um Estado que dizem condenar.
Na lógica brasileira, a ausência de um mínimo denominador ideológico comum é uma qualidade, e não um defeito. É isso que permite a esse grupo de partidos irem mais pra lá ou mais pra cá dependendo dos ventos, atuais e futuros.
A inconsistência dessas agremiações não exige posições unitárias, um grupo pode apoiar um governo mais à esquerda enquanto outro flerta abertamente com a direita. Nem mesmo a polarização protagonizada por bolsonaristas e petistas é suficiente para arrancar posições mais claras desses parlamentares que se movem na política como patinadores, que deslizam em várias direções.
Eles sabem que uma definição ideológica mais rígida lhes seria pouco lucrativa, diminuiria suas possibilidades de aliança. Rodeiam o poder como consumidores que, numa loja de roupas, pedem aquelas de tamanho único que, em tese, serve para altos e baixos, gordos e magros.
Apesar de uma maior identificação desses grupos com a direita, é impossível dizer, hoje, de que lado estarão em 2026. Isso vai depender de pesquisas, de perspectivas de poder, das chances de serem recompensados.
A situação é tão confortável, que mesmo a opção por um cavalo que venha a ser derrotado não os afastará de postos de comando. A exemplo do que vem ocorrendo nas últimas décadas, o presidente que vier a ser eleito, qualquer que seja ele, vai depender desses partidos para conseguir governar. Nessas horas, o fato de ter ficado do lado oposto na corrida eleitoral tem grandes chances de virar vantagem.
O sistema político-institucional brasileiro favorece a proliferação de partidos políticos nem contra, nem a favor, muito pelo contrário. O Congresso é, cada vez mais, ocupado não por legisladores, mas por políticos que atuam principalmente para obter e liberar verbas.
A atuação paroquial de deputados e senadores mina o debate público e fortalece a eleição de parlamentares não comprometidos com algum tipo de projeto. O contexto torna cada vez mais irrelevantes discussões amplas sobre o futuro do país — no lugar de debates e decisões sobre mudanças no sistema de saúde, o foco é na obtenção de grana para um hospital ou posto de saúde, medida que poderá garantir a reeleição de um parlamentar.
Esse tipo de lógica também favorece a proliferação de deputados que atuam descolados de qualquer orientação partidária. Seguem a direção apontada pelo próprio nariz, sem qualquer compromisso mais amplo.