Por: Fernando Molica

Quebra-quebra institucional na Câmara

Deputado disse que quer a morte do presidente Lula | Foto: Kayo Magalhãe/Câmara dos Deputados

Ao aprovarem, na Comissão de Segurança Pública, projeto que proíbe armas de fogo por seguranças do presidente da República e de seus ministros, deputados agiram como os invasores que depredaram o Congresso Nacional e outras sedes de poderes.

Deixaram evidente que trabalham contra a democracia e suas instituições, estão lá apenas para provocarem, fazerem chacota, desmoralizarem os próprios mandatos, debocharem da população que paga seus salários. Com palavras e gestos, tacaram pedras no Parlamento.

A justificativa do projeto apresentado pelos bolsonaristas Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP) e Delegado Caveira (PL-PA) (nome político de Lenildo Mendes dos Santos Sertão) não passa de uma ironia ginasiana, dessas capazes de gerar vergonha se apresentada numa roda de adultos.

Os dois políticos citam a cultura de paz e de redução da violência — temas presentes em proposições de especialistas em criminalidade e adotados por setores da esquerda — para tentar impedir que autoridades tenham direito à segurança armada, algo  necessário em qualquer lugar do mundo. Policiais, eles sabem que isso é inviável, mas não queriam perder a piada, por mais infantil que seja: caso abrissem mão da lógica caça-cliques, nada teriam para mostrar.

É alto tão caricatural que equivaleria a aprovar um projeto que autorizasse a invasão e depredação das casas e dos locais de trabalho de parlamentares que defendem a anistia. Se não veem crime na destruição de bens físicos e simbólicos da nação e na pregação de golpe militar, não poderiam, portanto, reclamar caso algo semelhante ocorresse em seus lares e escritórios.

Para piorar o tamanho do absurdo, o relator do projeto, o deputado Gilvan da Federal (PL-ES), nascido Gilvan Aguiar Costa, externou, na sessão, seu desejo de que o presidente Lula morra. Isso, num contexto de sua defesa da retirada da segurança armada daquele que foi eleito para governar o país.

Isso permite uma conclusão simples: a ausência de agentes armados do presidente Lula facilitaria o desejo do deputado de vê-lo morto. O relatório de Federal foi aprovado com 15 votos a favor, oito contra e uma abstenção.

A performance desses deputados demonstra que, diferentemente do que tanto alardeiam, eles e tantos outros que compartilham a mesma visão de mundo não estão nem um pouco preocupados com segurança pública. Usaram o espaço de comissão permanente da Câmara destinada a discutir um tema tão grave para fazer graça, para brincar; têm perfeita consciência de que a provocação em forma de projeto não passa de uma presepada para criar confusão.

Mas sabem também que só assim conseguiriam espaço e curtidas, teriam seus nomes citados nas redes sociais e no noticiário —— aqui, inclusive. Agiram como crianças que, na sala de aula, jogam bolinhas de papel umas nas outras. Ou como aquelas que, com sonoros e fedorentos traques, desviam a atenção de um auditório, provocam risos, deixam sem graça a professora. 

Seus gestos e palavras vão muito além de repetidos episódios de flatulência. O que querem é criar condições para a desmoralização total dos poderes da República, tentam provar que nada ali serve pra nada, que aquilo tudo — Congresso, Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal — pode e deve ser quebrado.

Atos que se encaixam nas proposições de Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza,  de 69 anos, ao relatar, em vídeo feito durante a invasão do STF, o que fazia por lá: "Quebrando tudo e cagando nessa bosta aqui". Fátima de Tubarão, como passou a ser conhecida, foi condenada a 17 anos de prisão e é uma das citada no vídeo em que pastores convocavam para o ato de domingo passado em defesa da anistia.