Por: Fernando Molica

E o Dino, hein? — a pergunta a esquerda

Ministro Flavio Dino | Foto: Fabio Pozzebom/Agência Brasil

Diante dos problemas de Lula e das críticas a Fernando Haddad, a pergunta que anda em cabeças de integrantes da esquerda, que falam — baixinho — pelos botecos é simples: "E o Dino, hein?".

Ex-ministro da Justiça, ex-governador do Maranhão, ex-senador, ex-deputado federal, ex-presidente da Embratur, Flávio Dino, ministro do Supremo Tribunal Federal, foi juiz federal, mas tem mais rodagem em cargos políticos (17 anos) do que na magistratura (13 anos).

No STF, conduz uma pauta capaz de conquistar apoio popular até entre eleitores que têm horror à esquerda, o combate à farra das emendas parlamentares. Mecanismo, que, entre 2020 e 2024, despejou R$ 109,5 bilhões em obras e serviços, muito mais do que a Polícia Federal estimou ter sido desviado no Petrolão.

Seria absurdo dizer que todas, ou mesmo a maioria, das emendas parlamentares foi engendrada para permitir desvios. Mas os dados levantados indicam que a roubalheira foi e é muito grande.

O país está mais do que vacinado em relação a integrantes do Judiciário que fazem e acontecem, que confudem a toga com capa de super-herói.  Sérgio Moro e Marcelo Bretas — afastado do cargo de magistrado pela própria Justiça — cometeram erros e abusos que por muitos anos serão sentidos no Judiciário.

Mas com todos os exageros, pedaladas processuais, abusos e evidentes sinais de contaminação ideológica e partidária, a Lava Jato serviu para mostrar parte do tamanho da engranagem de corrupção que move essas parcerias público-privadas informais no Brasil. Revelou que boa parte do universo político gravita em torno de interesses escusos e flexíveis, capazes de se renovarem constantemente.

Apesar do trauma gerado pelos juízes lavajatistas, muita gente na esquerda já admite uma candidatura de Dino à Presidência. Eles alegam que, diferentemente de Moro, Dino atuou na política de maneira explícita por quase duas décadas, não tem imagem ligada a malfeitos, transmite firmeza — como demonstrou no 8 de Janeiro — e compromisso com os mais pobres.

Outro ponto importante ressaltado por seus defensores é sua capacidade de brigar, diversas vezes foi agressivo e irônico com deputados bolsonaristas que questionavam sua gestão à frente do Ministério da Justiça. Essa característica tem sido reforçada diante do desempenho irregular de Lula nos debates da eleição de 2022 — em alguns momentos, ele chegou a ser acuado por Jair Bolsonaro.

O ministro nunca descartou voltar à política e tentar a Presidência, mas isso seria um projeto mais distante. Ele, numa eventual candidatura, também correria o risco de enfrentar a hostilidade de grande parte do universo político caso as investigações sobre as emendas rendam prisões — tem sido xingado por barrar o pagamento de boa parte delas. Enfrentaria também problemas para ter maioria no Congresso

Mas o exemplo de Bolsonaro em 2018 indica que eleitores não se importam em eleger alguém visto como inimigo de um sistema tido como corrupto. A proximidade histórica de Dino com o PT seria questionada, no início de sua carreira, chegou a ser filiado ao partido.

Outro problema seria renunciar à cadeira no STF, ele está às vésperas de completar um ano na função e, pela lei, pode ficar por lá até 2043, quando completará 75 anos. Ele, porém, abriu mão de cargo vitalício ao, em 2006, trocar o Judiciário pela Câmara dos Deputados. 

Por enquanto, Dino foge de abordagens sobre candidatura em 2026, o melhor para ele seria fazer planos para longe, no mínimo, para 2030. Mas a possibilidade de derrota da esquerda serve de estímulo e de dúvida: na política, não há certeza, nem nunca terá, e os caras do ramo costumam montar nos cavalos que passam selados.