Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Popularidade: caso Pix foi tiro no pé do governo

Mudanças no sistema foram mal recebidas | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Há no governo dois consensos em torno da queda da aprovação de Lula: os preços dos alimentos, algo que escapa do controle do Executivo, e a crise do Pix — gerada dentro do Ministério da Fazenda.

O fato foi percebido por boa parte da população como uma rasteira, principalmente, entre os cerca de 40% de trabalhadores que têm ocupações informais. Estes enxergaram nas mudanças das regras o olho grande da Receita Federal.

Ficou evidente que o governo não iria taxar as transferências, mas a alteração abria caminho para cobrança de impostos da grana obtida por muita gente. O fato se encaixou no discurso liberal, ressaltado pela direita, de que o Estado serve principalmente para atrapalhar o progresso individual.

 

Sem gratidão

Como frisou Felipe Nunes, da Quaest, em artigo na Folha de S.Paulo, o eleitor, hoje, é mais crítico. Não haveria mais uma gratidão em relação a iniciativas como Bolsa Família; teria sim a percepção de que, nesses casos, governantes apenas fariam suas obrigações.

Sem confiança

Para petistas, o caso Pix, mais do que afetar a popularidade de Lula, quebrou a confiança de eleitores do governo, identificado como um ente que beneficia protegidos de sempre e atua como inimigo do empreendedor. O governo pareceu dar razão a Pablo Marçal.

Episódio foi usado por quem chamava Haddad de "Taxxad"

Crise complicou eventual candidatura do ministro | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O pior, na avaliação de governistas, é que o episódio complica o eventual lançamento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à sucessão de Lula.

Isto, se o presidente desistir de tentar a reeleição. Semana passada, ele voltou a se referir à sua idade avançada, 79 anos, como eventual obstáculo para mais um mandato.

O caso Pix deu à oposição um fato para justificar o apelido de "Taxxad", que tentava colar no ministro.

Setores da economia já evitavam o Pix, certamente com medo da Receita. Vários bares e a rede de consultórios médicos Pastore há muito tempo rejeitam o mecanismo de pagamento, sabem que tudo ali é registrado.

Terceira via

Líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ) tem uma outra alternativa para libertar presos pelo 8 de Janeiro além da aprovação da anistia ampla e da eventual redução do alcance da proposta. A terceira via seria um projeto de lei sobre o Supremo Tribunal Federal.

Sem foro

A proposta deixaria mais evidente que não cabe ao STF julgar pessoas sem foro privilegiado, caso de praticamente todos os que foram condenados pela intentona. As idas e vindas da corte sobre a prerrogativa de foro asfaltariam o caminho para o projeto de lei.

Exemplo

A redução do escopo da anistia iria na direção do projeto do senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS). A proposta mantém as penas dos que fizeram depredações, mas livra de punição os acusados de tentar golpe de Estado e abolição da democracia.

Sem cadeia

Sóstenes diz que quem cometeu dano qualificado ou destruiu patrimônio público tem que ser condenado. Mas, como as penas para tais crimes são bem mais leves, essas pessoas seriam libertadas. O caminho a ser adotado vai depender dos ventos políticos.