Há cerca de seis meses, a ordem religiosa responsável pela Igreja de São Francisco, em Salvador (BA), fez uma manutenção emergencial no teto que acabaria desabando na última quarta.

O conserto, porém, não foi feito na estrutura que sustentava o teto, apenas no forro, um revestimento de estuque usado na época da construção.

A informação é da arquiteta Antonela Solé, diretora-executiva da Solé Associados, empresa contratada em 2023 pelo Iphan para fazer os projetos executivos para a reforma da igreja.

Segundo ela, seus técnicos detectaram que havia peças soltas no forro. A Ordem Primeira de São Francisco, então, providenciou o reparo, feito apenas nessa camada decorada.

A arquiteta ressalta que, naquele momento, a sujeira acumulada entre o telhado e o revestimento do teto impedia o acesso ao local, à estrutura que sustentava o forro. A presença de uma grande infestação de cupins por lá já tinha sido detectada e relatada.

Nesta primeira fase, o trabalho da Solé consistiu em fazer imagens do interior e do telhado da igreja. Os profissionais também traçaram o que Antonela chama de "nuvem de pontos", um processo que permite escanear prédios e produz imagens em 3D, com alta definição.

Antonella diz que, diferentemente do previsto, os projetos executivos não ficarão prontos em maio deste ano. Ela atribui o problema ao o sucateamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ocorrido no governo passado, de Jair Bolsonaro.

De acordo com ela, a falta de pessoal compromete o andamento dos trabalhos, já que o Iphan precisa aprovar cada etapa concluída e, assim, autorizar o pagamento à empresa e a continuidade dos serviços. Um processo que ficou muito lento.

Como a coluna mostrou ontem, o Iphan só pagou duas parcelas de R$ 37.748,87 à Solé. O contrato é de R$ 1,218 milhão.

A arquiteta lamenta a morte da jovem e o desabamento, que poderiam ter sido evitados se o processo de recuperação tivesse começado há mais tempo. Diz que há anos que os frades franciscanos pedem o início dos trabalhos de reforma da igreja e do convento.

Segundo ela, a tragédia deverá dar celeridade aos trabalhos dentro do governo. Mas ressaltou que a recuperação de uma instituição como o Iphan não é rápida, depende de concursos públicos, de contratações de pessoas capazes de avaliar o andamento das obras.

A diretora-executiva da Solé afirma que o trabalho feito servirá como base para uma reconstrução detalhada do teto que desabou. Isso porque tudo o que havia na igreja foi fotografado e escaneado, o que gerou uma grande quantidade de imagens em 3D.

Apesar de a licitação ter ocorrido em outubro de 2023 e o contrato assinado dois meses depois, os serviços só foram iniciados depois de uma reunião em março de 2024. Sete meses depois, o Iphan anunciou a assinatura de ordem de serviço relativa aos trabalhos.