Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Interesses regionais impedem federação do Centrão

Marcos Pereira, presidente do Republicanos | Foto: Douglas Gomes/liderança do Republicanos

A decisão dos deputados federais do Republicanos de não aceitarem formar uma federação com o PP e com o União Brasil tem a ver com, principalmente, interesses regionais, pilar básico do sistema partidário brasileiro.

A questão não é programática: nem filiados a esses partidos devem diferenciar os programas de cada um deles. Em linhas gerais, todos se consideram como de centro, o que, no Brasil, significa que estão confortavelmente perto de governos de direita e de esquerda.

Como não há diferenças ideológicas entre eles, existem para viabilizar acesso ao poder. Uma federação ampliaria a força nacional do grupo, mas tenderia a complicar a vida de dirigentes e parlametares nos estados e nos maiores municípios.

 

Caciques

Outro problema seria acomodar a quantidade de caciques nos três partidos. Como disse um deputado, não dá pra querer que o senador Ciro Nogueira (PP-PI), o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) e Antonio Rueda (União) aceitem abrir mão de poderes.

Camisa de força

Há outra questão em jogo e que aponta para a campanha presidencial. Separados, os três partidos podem fazer acordos com diferentes candidatos. Juntos, terão que, obrigatoriamente, apoiar um só. A camisa de força aperta e restringe ainda mais acordos nos estados.

Eleição mostrou que radicais vão além de seus partidos

Van Hatten obteve 31 votos para presidente | Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

A união em torno de Hugo Motta (Republicanos-SP) para o cargo de presidente da Câmara foi grande — ele teve o voto de 444 dos 513 deputados e recebeu o apoio explícito até do PT e do PL.

Mas a eleição mostrou que setores mais radicais, embora minoritários, continuam a respirar. O bolsonarista Marcel Van Hattem (Novo-RS) obteve 31 votos — e seu partido tem apenas quatro parlamentares na Casa.

Já o Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) contou com a adesão de 22 colegas. A federação Psol-Rede tem 14 deputados.

Ou seja, à direita e à esquerda há gente disposta a fazer muito barulho, que não aceita a conciliação.

Parceiros

Apesar de minoritários, esses deputados avaliam que contarão com o respaldo dos novos líderes do PT — Lindbergh Farias (RJ) — e do PL, Sóstenes Cavalcante (PL). Nenhum dos dois prima pela moderação e ambos dialogam muito bem com setores mais radicais.

Torcida

Setores importantes do Planalto torcem para que a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), não vire ministra. Temem que, no governo, ela acabe de inviabilizar acordos. Alvo de críticas de Gleisi, Fernando Haddad é um dos que preferem vê-la longe da Esplanada.

Bola pro lado

Ao ficarem em cima do muro na questão da anistia a acusados e condenados pelo 8 de Janeiro, Motta e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), tentam repetir a estratégia adotada por Arthur Lira (PP-AL) em 2024: a de tocar a bola pro lado.

Recado

Eles tentam deixar que o assunto se esvazie e, ao mesmo tempo, mandam recados para o PL, partido que tem os dois primeiros vices-presidentes das duas Casas: nada de aproveitar a eventual ausência dos titulares para tentar colocar o assunto na pauta.