Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Planalto comemora fala, mas com cuidado

Presidente deu entrevista coletiva ontem | Foto: Jose Cruz/Agência Brasil

O Palácio do Planalto ficou satisfeito com o resultado da entrevista coletiva concedida ontem por Lula (PT).

Na avaliação de pessoas próximas do presidente, ele conseguiu mostrar confiança, foi simpático, irônico, escapou de algumas perguntas mais delicadas. Melhor: não falou nenhuma besteira.

O problema é que também há no governo o consenso de que só a conversa não será suficiente para mudar a tendência de queda da popularidade de Lula detectada na última pesquisa da Quaest.

Para esses aliados, o trauma gerado pela história do Pix ainda vai repercutir por algum tempo, mas tende a ser superado. O desafio maior é em relação a algo bem mais concreto e permanente,o preço dos alimentos.

 

Nas alturas

Em 2024, a inflação foi de 4,83%, mas dados divulgados pela Associação Brasileira de Supermercados mostram que, em 2024, a cesta básica subiu 14,2%. Isso afeta principalmente famílias pobres, onde o percentual da renda gasto com alimentos é bem maior.

Realidade

Um petista ressalta: não adianta falar que a inflação oficial — que a mede variação de preços de diversos produtos e serviços — ficou abaixo de 5% se, no supermercado, o consumidor viu o café subir quase 40%; o óleo de soja, 29,22% e o leite longa vida, 18,83%.

Explicações não são suficientes para o consumidor

Governo sabe que preços de alimentos têm que cair | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Pior é que café e soja estão entre os principais itens exportados, o que deixa muita gente indignada: por que pagar tão caro pelo que é produzido no Brasil?

Os economistas do governo podem falar que ambos são commodities, que têm preços definidos pelo mercado internacional, que a alta do dólar favorece a exportação — a quantidade de reais recebidos é maior, a cotação é feita na moeda americana.

"O problema é convencer o consumidor, que fica irritadíssimo no supermercado", comenta um assessor do governo.

Ele diz que não há lábia presidencial capaz de superar o tamanho do problema.

Em órbita

Líder do PL no Senado, Carlos Portinho (RJ) classifica de "irrelevante" a anunciada candidatura do colega de partido Astronauta Marcos Pontes (SP) à presidência da Casa. Estima que ele só deverá ter o próprio voto. PL apoia o favorito, Davi Alcolumbre (União-AP).

Anistia

Portinho ressalta que o partido não pode abrir mão da primeira vice-presidência de Alcolumbre. Jair Bolsonaro já ressaltou que o cargo dá chance de, numa ausência do titular, o PL colocar em votação o projeto de anistia aos condenados e acusados pelo 8 de Janeiro.

Estratégia

Em suas redes, o senador enfatizou que não adianta falar agora em impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal, já que a oposição tem apenas 36 dos 81 senadores. Para ele, o importante é ocupar espaços até para eleger mais representantes em 2026.

Esperança

Apesar de o Planalto também apoiar Alcolumbre, a oposição tem esperança de o Senado passar a ter uma postura menos governista. "O Alcolumbre é corajoso", ressalta Portinho. Para ele, o atual presidente, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) dividiu e enfraqueceu a Casa.