Com ingredientes do cerrado e técnicas brasileiras, Vinícius Rossignoli e DonVittorio levam o sabor de Brasília ao topo do pódio no Chile
Brasil superou 40 países e venceu o maior campeonato de churrasco do mundo
A capital federal acaba de ganhar um novo motivo de orgulho — e, desta vez, ele vem das brasas. Os chefs brasilienses Vinícius Rossignoli e DonVittorio foram alguns dos 11 grandes nomes por trás da histórica conquista da Seleção Brasileira de Churrasco no Campeonato Mundial de Churrasco (WBQA World BBQ Championship), realizado em Vinã del Mar, no Chile. O Brasil venceu a competição pela primeira vez, superando 62 equipes de mais de 40 países e colocando o país no topo da gastronomia mundial.
O torneio, promovido pela World BBQ Association, é considerado o mais importante do planeta quando o assunto é churrasco. Durante dois dias de provas intensas, os competidores enfrentaram sete desafios que testaram desde a habilidade com cortes tradicionais até a criatividade com ingredientes inusitados. O Brasil brilhou em três categorias principais — peixe (salmão), picanha (carne bovina) e frango — e ainda se destacou no desafio vegetariano, que exigia o uso obrigatório de chocolate.
Cerrado presente
Mas o que realmente chamou a atenção dos jurados foi a identidade brasileira impressa em cada prato. A equipe apostou em técnicas autênticas e ingredientes nativos, como as baunilhas do cerrado, levando à mesa sabores que traduzem a biodiversidade e a riqueza cultural do país.
"Essa é a realização de um sonho. Trabalho para defender e divulgar o cerrado pelo mundo, sempre com o argumento de que temos os melhores sabores do mundo em nosso bioma. Uma conquista como essa não só é um marco para o país, mas também coroa e reforça os incríveis sabores e técnicas gastronômicas que temos," afirmou o chef Vinícius Rossignoli, que há anos atua em Brasília promovendo a culinária regional.
Rossignoli é conhecido por seu trabalho de valorização dos ingredientes do cerrado, como o baru, o pequi, o jatobá e a própria baunilha nativa, que foi utilizada na competição. Sua atuação no Mundial foi decisiva para que o Brasil não apenas competisse, mas encantasse os jurados com uma proposta ousada, sustentável e genuinamente brasileira.
O outro chef que integrou a equipe, DonVittorio, é conhecido por sua atuação na gastronomia premium de fogo no Distrito Federal. Ele se destaca por oferecer experiências gastronômicas sofisticadas com foco em churrasco artesanal, sendo referência em eventos e serviços de buffet na capital federal.
Potencial brasileiro
O capitão da equipe brasileira formada por 11 pessoas, o chef paulista André Bolla, destacou o esforço coletivo e a ausência de apoio institucional: "Essa jornada foi longa e cada integrante financiou a ida com recursos próprios. Este título demonstra o potencial desperdiçado e o pouco incentivo que a gastronomia nacional, tão reconhecida e valorizada lá fora, ainda recebe no nosso país. Esperamos que esta conquista mude esse cenário."
A vitória brasileira foi ainda mais significativa por ter superado potências tradicionais do churrasco, como Argentina, Alemanha (a então campeã), Chile (país-sede), Peru, Panamá e México. O título inédito projeta o Brasil no cenário gastronômico global e reforça a importância de se olhar para dentro, para os sabores e saberes que nascem nos biomas nacionais.
No Distrito Federal, a conquista tem um sabor especial. Em uma cidade muitas vezes associada apenas à política, a presença de Rossignoli no pódio mundial é um lembrete de que Brasília também é um polo de inovação gastronômica. O cerrado, que cobre a maior parte do território do DF, é um celeiro de ingredientes únicos, ainda pouco explorados pela culinária nacional.
A expectativa agora é que o título mundial sirva de impulso para políticas públicas de incentivo à gastronomia regional, à pesquisa de ingredientes nativos e à formação de novos talentos. Afinal, como mostrou o desempenho da seleção no Chile, o Brasil — e o cerrado — têm muito a oferecer ao mundo.