Por: William França

BRASILIANAS | Leilão da linha de trem de passageiros de Luziânia a Brasília será em 2026

A antiga Estação Rodoferroviária de Brasília hoje é ocupada por alguns órgãos públicos, mas não tem grande fluxo de pessoas | Foto: Internet

Prazo foi estipulado pelo Ministério dos Transportes. Leilão de nova empresa substituirá a atual, que só transporta cargas neste trecho. Será a primeira experiência do Governo Federal com esse novo modelo misto

Parece que agora vai dar certo! Depois de especulações políticas que já duram décadas, o Ministério dos Transportes estima que no ano que vem deve ir a leilão o trecho da ferrovia que liga Luziânia (GO) e a Rodoferroviária, em Brasília. Para isso, marcou já para o próximo mês a primeira audiência pública que irá apresentar o estudo técnico prévio, fará a coleta de sugestões e poderá definir os locais de parada para embarque e desembarque de passageiros.

Essa etapa, prevista para o fim do mês de agosto, é pré-requisito para que seja feito o novo leilão desse trecho, uma vez que a FCA (Ferrovia Centro-Atlântica), atual concessionária, já afirmou que pretende devolver a operação da linha. Atualmente, somente trens de carga usam esse trecho.

O novo modelo do Plano Nacional de Ferrovias - que mistura operação de passageiros e de cargas - será experimentado pelo Governo Federal nesta ferrovia. Há outras cinco em estudo no país: Salvador-Feira de Santana (BA), Maringá-Londrina (PR), Pelotas-Rio Grande (RS), Fortaleza-Sobral (CE) e São Luís-Itapecuru Mirim (MA).

De todos esses, o projeto-piloto deve ser mesmo o que vai atender a população do Entorno Sul do DF. A dificuldade na concessão de ferrovias passa pelo custo de sua implantação e pela perspectiva de retorno do investimento ao concessionário e, por isso, as etapas posteriores deverão indicar o novo modelo de concessão e os trâmites que serão necessários para sua viabilidade, como desapropriações e licenças ambientais.

Embora não haja, ainda, detalhamento do projeto, estima-se que aproximadamente 25 mil pessoas podem ser beneficiadas diretamente. Entre as vantagens, está a troca dos carros e ônibus que demoram até duas horas para percorrer o trajeto, em horário de pico, por uma viagem de 52 minutos. E ao custo de uma passagem de ônibus urbano do DF, que hoje é de R$ 5,50.

E, curiosamente, a perspectiva de os governos de Goiás e do Distrito Federal formalizarem em breve um consórcio para gerenciar o sistema de ônibus semi-urbanos é que está ajudando o Governo Federal a definir este trecho como o primeiro do país a sair do papel. Isso porque não está descartada a necessidade de subsídios para custear parte do sistema de trem de passageiros - seguindo o mesmo modelo que está sendo pensado para os ônibus.

E tanto o governo de Goiás quanto o do DF já sinalizaram com a possibilidade de subsídio, desde que o Governo Federal também aporte recursos, como para a compra de frota ou construção de estações.

Outro ponto que favorece este projeto GO-DF é o fato de, atrelado à concessão, serem previstos negócios imobiliários. A existência de um meio de transporte de massa valoriza as regiões próximas às linhas. Há exemplos positivos desse impacto em outros países, como na Inglaterra.

E, no caso de Goiás e do DF, o percurso já abriga regiões com alto adensamento populacional, mas que ainda possuem áreas para expansão. No DF, por exemplo, está prevista uma estação de trem no futuro Setor Jóquei Clube (que ficará inserido entre Vicente Pires, Guará e Cidade Estrutural). Nesta área, onde devem morar 50 mil pessoas, serão construídos cerca de 17.300 apartamentos, em prédios de até seis andares.

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O Shopping Popular (que está desativado) tem 20 mil m² e abriga 1.800 pontos de venda, além de subsolo com garagens | Foto: Facebook

Trem resolve problema de ambulantes

No caso da linha Luziânia-Brasília, o trecho já tem 58 km operacionais usados para carga. Para uso de passageiros, ela precisa ser revista e ajustada. Estão previstas seis estações de passageiros. A única construída até o momento é a Rodoferroviária, mas que precisa passar por ajustes físicos.

A ideia de retomar o uso da Rodoferroviária soa também como música para a atual gestão do GDF. "Brasilianas" já revelou que a Secretaria de Governo espera para breve que o Shopping Popular, hoje desativado e em poder do Governo Federal, seja de novo concedido ao governo local.

A intenção do governo Ibaneis Rocha (MDB) é reativar o espaço, que tem 1.800 estandes de venda, para abrigar os vendedores ambulantes que se espalharam pela cidade - inclusive atrapalhando e ocupando área da Rodoviária do Plano Piloto que foi recentemente concedida à iniciativa privada.

Os ambulantes resistem à ideia de mudança justamente porque não há público naquele local. Com um terminal ferroviário de passageiros (que vai demandar conexões com ônibus e mesmo com a futura linha do Metrô, que vai passar bem próxima, no Cruzeiro), não faltará potenciais consumidores.

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Extrato da reunião em que foi discutido o projeto do trem de passageiros entre Luziânia e Brasília | Foto: Ministério dos Transportes

 

Extrato da reunião

"Brasilianas" teve acesso à súmula da reunião realizada segunda-feira (30), no Ministério dos Transportes, onde foram elencados os principais pontos e os próximos passos para tornar real essa proposta. O resumo está no quadro acima.

A pauta foi tratada nesta segunda-feira (30), em reunião no Ministério dos Transportes, articulada pelo secretário do Entorno do Distrito Federal, Pábio Mossoró, que representou o Governo de Goiás.

A pedido do secretário, o encontro reuniu o secretário nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Cezar Ribeiro; o secretário Extraordinário do Entorno do GDF, Cristian Viana; e o subsecretário de Operações da Secretaria de Mobilidade do DF, Márcio Antônio de Jesus, representando o secretário Zeno Gonçalves.

Na reunião, foi acertada a formalização de um plano técnico de trabalho conjunto entre o Governo de Goiás, o Governo do Distrito Federal e a Secretaria Nacional de Transporte Ferroviário. O objetivo é revisar os estudos já contratados pela Infra S.A., identificar eventuais ajustes e organizar, de forma integrada, as etapas que antecedem a implantação do projeto.

Também ficou definida a realização de uma visita técnica ao longo de toda a ferrovia, que hoje opera exclusivamente com cargas. A vistoria deve levantar as condições da via e apontar os pontos que exigem adequações para o transporte de passageiros.

“Essa é uma demanda antiga da população do Entorno. O Governo de Goiás está dando todo suporte para a efetivação dessa proposta. Estamos tratando com seriedade um projeto que pode oferecer uma alternativa viável, segura e acessível para milhares de trabalhadores que precisam se deslocar todos os dias até Brasília”, afirmou o secretário do Entorno do DF, Pábio Mossoró.

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Na reunião no Ministério dos Transportes, articulada pelo secretário do Entorno do Distrito Federal, Pábio Mossoró, que representou o Governo de Goiás, teve também a participação do secretário nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Cezar Ribeiro; do secretário Extraordinário do Entorno do GDF, Cristian Viana; e do subsecretário de Operações da Secretaria de Mobilidade do DF, Márcio Antônio de Jesus, representando o secretário Zeno Gonçalves | Foto: Divulgação/Ministério dos Transportes