Poucas horas antes de receber oficialmente o terminal rodoviário, o consórcio Catedral informou ao GDF que tinha colocado todas as 12 escadas rolantes em operação. "Histórico", comemorou o secretário de Mobilidade, Zeno Gonçalves
Após pelo menos 27 anos após a última grande reforma (que nem foi tão completa assim), e quase 65 anos depois de inaugurada, a Rodoviária do Plano Piloto, projetada por Lúcio Costa para ser o "estuário em que palpitará a vida de Brasília", está desde a zero hora do último domingo (1º de junho) sob gestão privada, pelos próximos 20 anos.
Símbolo do descaso e dos desmandos políticos que se arrastavam de governo em governo pelo menos desde os anos 1980, a Rodoviária do Plano Piloto virou desde balcão de negócios - com contratos fictícios, com empresas de fachada, com apadrinhamento politico, com obras superfaturadas - até a maior fonte de promessas de candidatos. Afinal, um a um, todos os políticos que concorreram ao GDF sempre prometeram reformar o terminal.
"Desde 1991, a Novacap possui um parecer técnico detalhado apontando 'fenômenos de extrema gravidade' na estrutura de concreto da Rodoviária do Plano Piloto e propondo uma reforma completa nas suas bases de sustentação", reportou o jornalista Luís Turiba no "Correio Braziliense" em 1994.
Mas, completa o relato, sob a seguinte manchete "Verba teria sido desviada": "Em 1992, um ano após a Novacap ter encomendado um parecer ao professor Aderson Moreira da Rocha, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a reforma foi contemplada no orçamento do GDF com Cr$ 5,7 bilhões. Mas somente Cr$ 18 milhões foram usados no que os técnicos chamam de 'maquiagem'".
A estrutura, mesmo, nunca foi mexida. O último governador que tentou (mas não concluiu o processo) foi Cristóvam Buarque, que no dia 28 de agosto de 1998 baixou um Decreto aprovando o projeto de reforma Plataforma Rodoviária do Plano Piloto, na Região Administrativa de Brasília.
Desde essa época, o que se fez sempre é corrigir o que está a olhos vistos. E nada mais representava o descaso ou a ineficiência de gestão para quem circulava pelo terminal rodoviário (que recebe cerca de 700 mil pessoas por dia) do que ver as escadas rolantes paradas e os elevadores desligados
Comemoração na noite de sábado
"A nova gestão da Rodoviária do Plano Piloto inicia sua operação com todas as 12 escadas rolantes funcionando", destaca a nota da Catedral (nome adotado pelo consórcio vencedor). A informação foi confirmada a "Brasilianas" às 21h de sábado (três horas antes do início de a gestão passar à iniciativa privada) pelo secretário de Transporte e Mobilidade, Zeno Gonçalves.
"TODAS", destacou o secretário. "É um fato histórico", comemorou Zeno Gonçalves, num misto de felicidade e alívio. Isso porque agora caberá à Semob fiscalizar o contrato, e não gerenciar problemas - muitos sem solução. "A máquina pública tem muitos entraves e regras que a iniciativa privada não tem. Tudo será diferente a partir de agora", profetiza o secretário.
Pelo contrato, a concessionária deverá investir R$ 120 milhões na recuperação, modernização e conservação da rodoviária, além de manter o sistema operacional e de comunicação com os usuários. Ela terá o prazo de seis anos para executar os investimentos.
De acordo com o cronograma do projeto, além da manutenção dos serviços essenciais, nos primeiros dois anos deverão ser investidos R$ 7 milhões na implantação de infraestrutura dos estacionamentos e do sistema operacional da rodoviária.
Enquanto isso, o prédio estará passando por reformas - como a construção de um novo terminal para o BRT -, com investimentos de R$ 57,7 milhões e a previsão é de terminar essa fase em três anos. Já a recuperação geral da estrutura e modernização do complexo deverá estar pronta em quatro anos, com mais R$ 54,9 milhões em investimentos.
Elevadores em breve em operação
Todas as escadas rolantes já estão operando, após uma manutenção de recuperação preventiva realizada antes mesmo do início oficial da gestão. "O funcionamento ocorre em caráter especial, com atenção redobrada nos próximos meses. Isso porque algumas peças, fundamentais para a reforma completa das 12 unidades, ainda estão em processo de importação", afirma a nota da Catedral.
A partir de agora, o terminal tem um plano de manutenção contínua, com equipe técnica dedicada, peças de reposição em estoque e intervenções programadas fora dos horários de pico. "A prioridade foi responder de forma imediata a uma demanda antiga dos usuários, que apontaram a acessibilidade como um dos principais desafios do terminal. Além das escadas, todos os elevadores também estão sendo modernizados — dois já estão funcionando e os demais serão entregues até o final de 2025", afirma a empresa.