Por: William França

BRASILIANAS | Primeiros semáforos inteligentes já no início de 2026, estima Detran-DF

O sistema semafórico do DF é da década de 1980 e está tecnologicamente defasado | Foto: Divulgação/Detran-DF

Além deles, pardais com leitura dinâmica de placas e outro data center irão formar a estrutura de um novo centro operacional para (enfim) fazer a gestão inteligente do trânsito no DF. 'Mas quero investir mesmo é em educação de trânsito', disse Bellini

EXCLUSIVO - Brasília tem hoje exatos 2.124.389 veículos em circulação. É um volume de carros nas ruas superior à de muitos países mundo afora, como a Eslovênia, Suécia e Finlândia - locais que foram recentemente visitados pelo novo diretor-geral do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF), Marcu Bellini.

Em sua primeira entrevista à imprensa desde que tomou posse, há cerca de 50 dias, Bellini afirmou ontem à "Brasilianas" que essa viagem à Europa, promovida pela associação que reúne os Detrans de todo o país, serviu para chamar a atenção dele para a importância e as conquistas advindas da educação no trânsito, que são o destaque naqueles países.

"Muito mais do que tecnologia, a educação para o trânsito e no trânsito foi o que mais me impressionou", declarou Bellini. "Esse será um mote da minha gestão enquanto eu estiver aqui no Detran-DF: mostrar que a educação no trânsito não é utopia", completou.

Em sua "nova casa" (literalmente, porque o Detran-DF está numa nova sede há dois meses, na 713/913 Sul), Bellini fez questão de ressaltar que a conquista do respeito à faixa de pedestre pelos brasilienses, há 28 anos, é um exemplo de que é possível, sim, fazer uma mudança cultural que envolva melhorias no trânsito. "Precisamos fazer mais ações como essas, de explicar à sociedade as regras e os deveres no trânsito", completou.

Ele cita ainda que observou na Europa algumas ações complementares que poderão colaborar com a melhoria do ir-e-vir do brasiliense, como o reforço na iluminação pública e mais sinalização, tanto vertical (placas) quanto horizontais (marcadores em pistas). "Quanto mais o motorista ver que naquele lugar tem uma faixa de pedestre ou um quebra-molas, tanto melhor para todos."

Entre boas risadas e descontração, o novo diretor-geral disse à coluna que "já vestiu a camiseta amarela" do órgão que preside e que já é tão ou mais corporativo quanto os seus servidores, na defesa da entidade. "Somos sim bairristas, corporativistas, mas somos fantásticos, porque trabalhamos com muita gente, muitos problemas, e estamos fazendo o nosso melhor", enfatiza.

Macaque in the trees
"Precisamos fazer uma inversão: arrumar primeiro o Detran", afirma Bellini | Foto: Divulgação/Detran-DF

Novo Centro Operacional

Bellini afirmou que ainda está concluindo as análises dos projetos e propostas que recebeu da gestão passada. Takane Nascimento presidiu o Detran-DF por quase dois anos e deixou muitos processos em curso. Entre eles, o da renovação tecnológica do Detran-DF.

"Para melhorar o trânsito na cidade, precisamos fazer uma inversão: arrumar primeiro o Detran e, de dentro pra fora, chegarmos ao melhor atendimento ao cidadão. Queremos ser mais céleres, atender com todos com mais dignidade e com menor custo", apregoa.

Para que possa fazer o que chamou de "gestão inteligente do trânsito", Bellini está revendo os processos licitatórios que já estavam sendo concluídos e decidiu desmembrá-los. Em vez de uma grande licitação, na ordem de R$ 200 milhões (como previa Takane), ele quer dividir os serviços em diversos contratos.

Por exemplo: para o novo sistema de semáforos inteligentes, com uso de Inteligência Artificial, Bellini estima que serão necessários cerca de R$ 80 milhões. Além dele, será feita uma licitação para um sistema de pardais que tenha leitura de placas (a exemplo dos usados pelo Departamento de Estradas de Rodagem - DER-DF) e que faça o que ele chamou de cercamento digital: monitoramento dos veículos que circulam por determinadas áreas, com a ajuda de sistemas de IoT (sigla para internet das coisas, que são sensores instalados em determinados veículos, como ambulâncias, para identificá-los mais facilmente no meio do fluxo de trânsito).

Também será feita a licitação para um novo data-center, que será um segundo sistema similar ao atual. "Precisamos ter redundância nesse serviço. Não podemos ficar à mercê de um único ponto", disse Bellini - em referência ao apagão sofrido ano passado, na sede do atual centro de informática do Detran-DF, por conta do furto de cabos elétricos por vândalos.

"Todo esse conjunto - semáforos, pardais e data-center - formarão naturalmente um novo Centro Operacional para o Detran-DF, que será capaz de permitir que a gente possa comandar, remotamente, de uma sala, todo o sistema e em uma emergência abrir o trânsito para a passagem de uma ambulância ou de um carro de bombeiros, por exemplo", explicou o diretor-geral.

Recursos não serão problema para o Detran-DF. Ano passado, o Detran-DF arrecadou R$ 239 milhões apenas com multas, mas investiu apenas 32% desse valor, deixando R$ 162 milhões "sobrando" no caixa - que, por falta de projetos, acabou indo de volta para o cofre comum do GDF.

Por conta desse histórico, Bellini afirma que pretende concluir essas licitações ainda este ano, para que não tenha de devolver recursos vindos das multas (que, até o momento, já alcançam R$ 48,8 milhões). Por lei, esse dinheiro só pode ser usado em ações que revertam para a melhoria do trânsito (não podem ser usados para pagamento de pessoal, por exemplo).

Questionado sobre quando o brasiliense poderá ter o primeiro semáforo inteligente do Detran-DF em funcionamento, Bellini titubeou. Diante da insistência, cravou uma data: "gostaria de instalar o primeiro logo em janeiro de 2026 e vou trabalhar para isso". Vale lembrar que os atuais semáforos são em sua maioria da década de 1980.

Oxalá assim o seja!

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À "Brasilianas", Marcus Bellini estima que em janeiro do ano que vem o DF poderá ter semáforos inteligentes | Foto: Divulgação/Detran-DF