Por: William França

BRASILIANAS | Rodoviária do Plano Piloto terá sala multissensorial dedicada a autistas

Sala multissensorial instalada na Rodoviária do Plano Piloto pela Catedral | Foto: Fotos: Divulgação/Catedral

Inicialmente previsto para hoje, a concessionária Catedral, nova gestora do terminal, pediu prazo e irá assumir o contrato a partir do próximo dia 1º. Assim, o GDF ganha mais uns dias para retirar os ambulantes do local

EXCLUSIVO - Prevista inicialmente para operar soberanamente a partir de hoje (22) na Rodoviária do Plano Piloto, a empresa Catedral - formada pelo consórcio vencedor da licitação do terminal - pediu alteração na data do início da vigência da parceria, que vai durar 20 anos. Consultada, a Secretaria de Transportes e Mobilidade (Semob-DF) autorizou a mudança e o contrato entra em vigor no dia 1º de junho.

Com essa mudança, o GDF ganha na prática mais oito dias para encontrar uma solução que atenda aos ambulantes que (por ora) ocupam tendas instaladas no estacionamento superior do terminal, próximo ao Teatro Nacional. São cerca de 100 ambulantes que fizeram um cadastro junto à Administração do Plano Piloto, e que (segundo o GDF) ficariam por lá temporariamente, por 60 dias. O prazo se esgotou no dia 13, na semana passada... e nada de solução, ainda.

"Brasilianas" apurou que hoje haverá mais uma rodada de reuniões, que será coordenada pela Secretaria de Governo (Segov). O GDF receberá uma comissão dos ambulantes para ver se eles aceitam trabalhar em outro local, que não seja a Rodoviária do Plano Piloto ou em suas imediações.

Há várias propostas em análise, inclusive a de retomar o Shopping Popular, que funcionava ao lado da antiga Rodoferroviária. Lá, o imbróglio é um tanto grande, porque além de a estrutura estar bem degrada, a União (dona do terreno) pediu de volta o espaço, que, por sua vez, tem dívidas de aproximadamente R$ 4,4 milhões com a concessionária de energia elétrica, a Neoenergia - o que resultou na interrupção do fornecimento de energia, pela falta de pagamento de mais de 70 faturas.

Há ainda uma resistência dos ambulantes, que querem "ficar na área nobre" da cidade, segundo relatos ouvidos por esta coluna. Mas, por conta do contrato de concessão, eles não poderão mais ocupar o estacionamento (onde estão por enquanto), porque cabe à concessionária da Rodoviária a exploração das vagas para os estacionamento dos veículos. Caso permaneçam, a empresa poderia até mesmo cobrar do GDF pelo uso do espaço - uma situação sequer prevista em contrato.

Tampouco interessa aos novos gestores que os ambulantes continuem na situação de "gato-e-rato" pelo terminal, que implica no uso constante de força policial e de fiscais da Secretaria do DF Legal, que tem poder de apreender as mercadorias. Há trativas inclusive com o Sebrae-DF, para tentar achar soluções.

O problema se torna ainda mais grave porque o governador Ibaneis Rocha (MDB) afirmou que "ninguém vai ficar abandonado" e que vai buscar uma solução que atenda principalmente os anseios dos ambulantes. Os técnicos do GDF estão há dois meses tentando achar essa saída, sem sucesso...

Macaque in the trees
Uma piscina com bolinhas transparentes e com efeitos luminosos compõe o espaço | Foto: Divulgação/Catedral

Espaço inédito em terminais

No dia 1º de junho, quando assumir oficialmente o mais icônico dos terminais rodoviários do país, a concessionária Catedral entregará à população do DF uma sala multissensorial, voltada ao acolhimento de pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) e outras neuro divergências. Ela está instalada ao lado da Administração do Terminal, no piso térreo.

Embora não fizesse parte das exigências do contrato de concessão, a construção do ambiente foi uma iniciativa da própria concessionária, que contratou a mesma empresa responsável pela instalação semelhante feita no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo.

"É um presente de boas-vindas à população do Distrito Federal", afirmou à Brasilianas o diretor da empresa e gestor do contrato, Enrico Capecci. Apesar de já gerenciar 13 terminais rodoviários em São Paulo, a RZK (principal empresa que forma a concessionária Catedral) optou por fazer a estreia do projeto multisensorial em Brasília.

"O objetivo é promover mais conforto, inclusão e bem-estar aos usuários da rodoviária, especialmente àqueles que enfrentam dificuldades sensoriais em locais com grande fluxo de pessoas", explica Capecci.

A sala é composta por ambientes refrigerados, com iluminação suave (há uma simulação de nuvens no teto), trabalhada com efeitos luminosos (como tubos com bolhas), com música clássica (ao som de um piano, por exemplo), com almofadas e poltronas alcochoadas e até mesmo uma piscina de bolinhas luminosas. O ambiente será gerenciado por servidores da Catedral, com treinamento para receber o público autista e seus familiares.

Em breve, a rodoviária também vai ganhar outro espaço comum a shoppings centers: uma sala para amamentação. Enrico Capecci reforça que nenhum desses espaços estavam previstos em contrato.

Quer conhecer a sala multissensorial em primeira mão?

Assista ao vídeo de "Brasilianas" no link https://youtube.com/shorts/5YQ9t6Ts3TE?feature=share

Macaque in the trees
O espaço é voltado ao acolhimento de pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) e outras neuro divergências | Foto: Divulgação/Catedral

E as escadas rolantes?

Talvez o problema mais evidente na Rodoviária do Plano Piloto seja a falta de acessibilidade, que é traduzida pelas escadas rolantes quebradas e os elevadores parados. Para ambos os equipamentos, a concessionária Catedral afirma que está trabalhando para recuperá-los. Um dos problemas já apontados pelo novo gestor do espaço é que as máquinas são muito antigas, algumas sem peças de reposição e nem mesmo representantes no Brasil.

Algumas peças estão sendo importadas e estão sendo aguardadas para reposição. Enquanto isso, os espaços seguem fechados com tapumes.

Outra mudança já notada no terminal, ainda neste período de transição para a iniciativa privada, é a limpeza. Até mesmo nos tetos, que ganharam uma demão de tinta branca (havia fuligem acumulada, o que reforçava o ar de abandono do local). Também está sendo revista a iluminação, com aumento na potência das lâmpadas, dando maior claridade ao espaço.