Por: William França

BRASILIANAS | Metrô-DF cria diretoria para (só agora) 'fazer seu planejamento'

Alguns trens, como estes da série 1000, datam da inauguração da empresa, há 24 anos | Foto: Divulgação/Metrô-DF

Para tentar tirar a pecha de inoperante (que irritou o GDF), o Metrô-DF cria 46 novos cargos em comissão, com salários de R$ 15 mil, para (enfim) planejar seus trabalhos

Após 24 anos de operações, a Companhia do Metropolitano do DF (Metrô-DF) decidiu (só agora) criar uma diretoria para planejar o seu futuro. A proposta, que foi discutida pela Câmara Legislativa do DF esta semana, foi encaminhada pelo Governo do Distrito Federal exatamente duas semanas após "Brasilianas" revelar que várias autoridades do GDF - incluindo a vice-governadora e pré-candidata ao governo em 2026, Celina Leão (PP) - estavam insatisfeitas e faziam críticas à inoperância generalizada por parte da diretoria da empresa.
Celina estava irritada porque, dentre outros pontos, o Metrô-DF não havia tomado nenhuma providência para dar curso à compra dos 15 novos trens para as atuais linhas (Ceilândia e Samambaia), com os quais ela se comprometeu e já está em negociações, inclusive de financiamento, junto a empresários chineses. Celina (e o presidente do Metrô-DF), Handerson Cabral Ribeiro, estiveram na China em dezembro - e, desde lá, nenhuma providência prática foi tomada pela companhia para viabilizar a licitação internacional, como a marcação de uma necessária audiência pública.
Segundo a justificativa que acompanhou o pedido de urgência para que a CLDF apreciasse o projeto de lei que criou 46 novos cargos para o Metrô-DF (assinada pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) no dia 25 de abril), a nova diretoria se tornou necessária "considerando a expansão do sistema metroviário e o aumento das operações, especialmente com as obras em andamento para a ampliação das linhas em Samambaia e Ceilândia".
Segundo o Metrô-DF, a nova Diretoria de Planejamento terá responsabilidade por coordenar áreas essenciais, como estudos, planejamento estratégico e institucional, inovação
tecnológica, meio ambiente e sustentabilidade, "assegurando que a estrutura organizacional esteja alinhada com as necessidades operacionais atuais e futuras".
"Brasilianas" questinou ao Metrô-DF detalhes da 196ª reunião colegiada do Metrô, que decidiu pela criação da nova diretoria. Até o fechamento desta edição, não obteve resposta.

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Plenário da Câmara Legislativa do DF durante sessão que discutiu a criação de 46 cargos no Metrô-DF | Foto: Carolina Curi

Reação negativa na CLDF

A proposta recebeu críticas da oposição na CLDF. O deputado distrital Gabriel Magno (PT) chegou a dizer que o governo mentiu ao enviar o projeto para a Casa. “O projeto trata da criação de 46 cargos em comissão no Metrô-DF com salário de R$ 15 mil por mês. O pior é que mentiram para nós ao dizerem que seria enviado um projeto para tratar da carreira dos servidores do Metrô-DF e o que estamos vendo é mais uma criação de cargos comissionados”, afirmou.
O deputado distrital Chico Vigilante (PT) questionou a necessidade de uma nova diretoria no Metrô-DF. “O governo diz que esses cargos são para a criação de uma diretoria de planejamento. Como é que só agora descobriram que o metrô precisa de planejamento? Vão gastar com essa farra de cargos mais de R$ 9 milhões. Será que estão querendo contratar 46 cabos eleitorais bem remunerados? Cadê a construção de novas estações, a aquisição de novos trens? Isso não é aceitável”, criticou.
Para o deputado distrital Fábio Félix (PSOL), o projeto só tem uma motivação. “Trata-se simplesmente da criação de cargos no Metrô-DF sem transparência”, resumiu.
Apesar das reações, os deputados distritais aprovaram na última terça-feira, em primeiro e em segundo turno, o projeto de lei 1709/25, de autoria do Poder Executivo. A proposta segue para sanção do governador.