QUEM É O BRASILIENSE (III)
Os empregos ainda estão em sua maioria no Plano Piloto, mas o número dos que trabalham nas próprias regiões administrativas onde moram está aumentando. E disparou o número dos que se declaram autônomos. Maior parte do brasiliense nasceu aqui no DF, mora só ou está em família formada por casal sem filhos
A terceira etapa do levantamento sobre o perfil do brasiliense, organizada por 'Brasilianas' a partir dos dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios Ampliada (PDAD-A) de 2024, feita pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPE-DF) e divulgada em abril, fala de como são os arranjos familiares e onde trabalham os brasilienses. Ah... e também qual é a origem dos quase 3 milhões de habitantes do Quadradinho.
Vamos começar por este aspecto, o da natureza da população. A maior parte dos brasilienses nasceu no DF: 57,4% dos pesquisados. No levantamento da PDAD-A feito em 2021, esse percentual era de 55,5%. Ou seja, hoje somos mais brasilienses aqueles que ocupamos as 35 regiões administrativas.
A RA "mais brasiliense" é o Lago Norte. Lá, nada menos do que 78,4% dos moradores são nascidos no DF. Percentual bem mais alto do que em Brazlândia, Gama, Sobradinho e Sobradinho II, que estão em empate técnico, próximo a 65% - e, portanto, acima da média.
As RAs que têm menos pessoas nascidas aqui no DF são justamente as mesmas que têm mais moradores que nasceram em outros Estados da federação. Lidera essa lista o Plano Piloto (56,7%), tendo o Sudoeste/Octogonal, Águas Claras e São Sebastião bastante próximos, com mais de 50% dos seus moradores vindos de outros Estados.
Estados "exportadores"
Afinal, quantos são os moradores do DF que vieram de outro Estado? Segundo a pesquisa, em média, 42,1% dos moradores do DF vieram de outro Estado.
E qual é o Estado que mais "exportou" pessoas para o DF? Segue na liderança Minas Gerais, com 15,7%, seguido por Goiás (13,4%) e Bahia (11,9%). Maranhão e Piauí estão empatados, com 11,3% cada.
Outra novidade no estudo deste ano: é possível olharmos por região, de forma aglutinada. Assim, podemos constatar que a maioria expressiva dos que vieram para o DF saiu do Nordeste (54%). Do Sudeste vieram 22,5%, do Centro-Oeste 16%, do Norte 4,7% e da região Sul do Brasil temos 2,9%.
Pela primeira vez, a pesquisa registrou os moradores que vieram de outro país: somam 0,5% da população residente e, em sua grande maioria, moram no Lago Sul (3,5%), seguidos pelo Sudoeste/Octogonal e Lago Norte. Curiosamente, São Sebastião aparece com 1,6% dos estrangeiros residentes no DF. A explicação: a maioria é formada por imigrantes venezuelanos, que fogem da ditatura instalada naquele país.
Ceilândia perde título
Considerada por muito tempo como a "Região Administrativa mais nordestina do DF", segundo os atuais dados, Ceilândia perdeu a liderança e aparece em quarto lugar quando analisada a origem da população que não nasceu no DF. Lá, 68% tem origem no Nordeste. A liderança agora é do SCIA/Estrutural, com 74%, seguida pelo Sol Nascente/Pôr do Sol (72,1%) e Recanto das Emas (69%).
Os Estados de origem também diferem. No SCIA/Estrutural, a maior parte dos nordestinos veio da Bahia (23,1%). No Sol Nascente, do Piauí (20,4%). No Recanto das Emas, também da Bahia (17,3%). E em Ceilândia, a população em sua maioria também veio do Piauí (17,6%).
Olhando para as demais regiões do país, a cidade que tem mais moradores vindo do Sudeste é o Lago Sul (48,5%). A origem deles é, em sua maioria, de Minas Gerais (23,55). Depois, ele é seguido pelo Jardim Botânico, Sudoeste/Octogonal, Águas Claras e Lago Norte.
A RA que tem mais pessoas vindas do Centro-Oeste é Brazlândia, representando 26,9% de seus moradores e, em sua maioria, vieram de Goiás (24,3%). Depois é o Riacho Fundo, Águas Claras, Planaltina e Taguatinga.
Dos que vieram do Sul, a maior parte está no Lago Sul (11,2%) e o Estado mais representado é o Rio Grande do Sul (6,1%). Seguem Cruzeiro e, empatados tecnicamente, Plano Piloto, Sudoeste/Octogonal e Park Way.
E os que vieram da região Norte estão, em sua maioria, no Riacho Fundo II e vieram do Maranhão (18%). Sobradinho II, Vicente Pires, Taguatinga e Água Quente também têm muitos nortistas.
Emprego mudou de perfil
Uma surpresa surgida no levantamento 2024 é o crescimento expressivo dos brasilienses que se declararam autônomos. Passou de 22,5% em 2021 para 28,3%. Ceilândia lidera esse segmento, em que 39,5% de sua população afirma trabalhar por conta própria. Índice muito próximo de Vicente Pires (38,5%) e Arniqueira (38,2%). Curiosamente, o Park Way também traz um grande número de autônomos em sua força de trabalho (34,4%).
Houve um ligeiro aumento dentre aqueles que declararam trabalhar no setor privado: são 47% agora, ante 46,4% em 2021. E uma queda no percentual dos que declaram trabalhar no setor público. Era 18,4% em 2021 e agora somam 17,8%.
Ou seja: cada vez menos o brasiliense trabalha (diretamente) no setor público. O que não significa que aqueles que estão na iniciativa privada não sejam fornecedores de bens ou de serviços para os governos Federal e do Distrito Federal. Caiu o número de funcionários públicos, não os gastos públicos com mão-de-obra ou serviços.
Outra queda bastante evidente é o quanto ao número dos que trabalham como empregados domésticos. Representavam 4,2% dos empregos em 2021, e agora somam 2,7%. Dos que declararam que trabalham em outras casas, 18% estão no Varjão, seguidos pela Arapoanga, Itapoã, Fercal e Água Quente.
Na edição de ontem, "Brasilianas" mostrou que esses empregos estão concentrados no Lago Sul (75,2% das casas desta RA têm empregados domésticos), seguido pelo Lago Norte e Sudoeste/Octogonal.
Menos dependência do Plano Piloto
Em 2021, 40,7% dos brasilienses declararam que trabalhavam no Plano Piloto. Agora, esse percentual caiu para 34,4%. É um número muito próximo daqueles que trabalham na própria região administrativa onde moram (isso, claro, excetuando os que residente no próprio Plano Piloto).
Significa que cada vez menos existe a dependência do emprego no Plano Piloto. Os moradores de Brazlândia (53,4%), de Planaltina, de Taguatinga, Gama e Fercal aparecem como líderes dentre as RAs que não dependem do Plano Piloto.
Na ponta oposta, estão os moradores do Lago Norte (58,9%), Lago Sul, Park Way e Sudoeste/Octogonal que ainda se deslocam para o Plano Piloto, para trabalhar.
Arranjos familiares
A maioria dos brasilienses mora sozinho (19%). E estão concentrados no Sudoeste/Octogonal (42,7% dos moradores de lá), seguidos por Águas Claras (34,6%).
O segundo arranjo familiar mais expressivo no DF é o formado por casais sem filhos, que totalizam 18,9% dos brasilienses. Esse grupo é mais expressivo no Plano Piloto (28,8%), seguido de perto pelo Lago Sul e Vicente Pires.
O terceiro maior arranjo familiar é o de famílias chefiadas apenas pela mãe (famílias monoparentais), que em média são 17,2% em todo o DF. Por região administrativa, elas estão mais presentes no Paranoá (27,6%), seguidos por Varjão (27,1%) e Brazlândia.
Os casais com 1 filho representam 16,9% no DF, e aparecem em sua maioria no Lago Sul (23,6% da população de lá), seguido pelos moradores do Jardim Botânico e Arapoanga.
Casais com 2 filhos somam 12% da população, e estão no Jardim Botânico (20%) e no Park Way.
Já as famílias mais numerosas, com 3 ou mais filhos, estão no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA), com 10,7%, seguido por Samambaia e SCIA/Estrutural.