Por: William França

BRASILIANAS | DF terá sistema de semáforos superinteligentes, com IA

Diagrama indica funcionamento do sistema de semáforos superinteligentes, modelo que o Detran-DF quer implantar | Foto: Cities Today/Tecmundo

'Brasilianas' rompe a 'caixa-preta' do Detran-DF: numa rara entrevista, o diretor-geral anuncia novidades e explica que o órgão está passando por ajustes internos que incluem 'descontaminação'. 'Tem gente aqui que atua para o quanto pior, melhor'

Poucas horas após “Brasilianas” ter publicado na edição de ontem uma série de notas classificando o Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF) de “caixa preta com recursos bilionários e sem transparência”, este colunista foi procurado diretamente pelo diretor-geral do órgão, Takane Kioytsuka do Nascimento. E não foi para contestar nada.

Em uma rara e longa entrevista (a conversa durou 1h30), logo de pronto, Takane demonstrou ser bastante simpático - embora reservado, como “um paraibano criado numa família com a mãe japonesa, bastante rígida”. E se pôs a explicar, ponto a ponto, todos os questionamentos feitos por esta coluna.

Primeiramente, Takane não quis falar muito sobre como encontrou o Detran-DF desde que assumiu o órgão, em junho de 2023. “A gente não dirige um carro olhando para o retrovisor. Olha para a frente”, resumiu, sem querer apontar para qualquer gestor (ou gestão) que o tenha antecedido.

Mas não escondeu, por diversas vezes, as dificuldades que vêm enfrentando nesses 20 meses que responde pelo órgão que mais arrecada recursos em todo o DF. “Estamos fazendo um trabalho de descontaminação. É complicado. Tem muita gente aqui que atua para o quanto pior, melhor!”.

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O diretor-geral do Detran-DF, Takane do Nascimento | Foto: Gilberto Alves/Agência Brasília

"Mangueira furada"

De pronto, reconheceu que os dados relativos ao Departamento de Trânsito não estão mesmo na página da Transparência do GDF, como deveriam. “Foi uma falha. E temos várias delas. Estamos com um problema sério com nosso parque de informática - que parece uma mangueira furada”, afirmou – sem, no entanto, saber dizer o porquê de os dados desde setembro do ano passado ainda não terem se tornado públicos.

Logo, determinou à sua assessoria que corrija a falha o quanto antes. “Não temos nada a esconder.”

Por um breve momento, ele fugiu de sua máxima oriental e acabou reclamando da “herança” que recebeu. Relatou a precariedade das atuais instalações onde há 30 anos funciona o sistema de informática do Detran-DF, que já foi objeto de roubo de cabos elétricos e de infiltrações. Ano passado, um raio durante uma chuva forte, desligou tudo por horas.

“Precisamos investir rapidamente numa solução para o nosso banco de dados. Temos de ter um outro parque tecnológico, redundante. O Detran-DF trabalha diretamente com o patrimônio de quase 2 milhões de brasilienses, e com os dados pessoais deles também. É muito grande nossa responsabilidade e muito sério o cuidado que temos de ter com tudo isso.”

Segundo ele, não é irregular usar os recursos oriundos das multas de trânsito (fonte 237) para uso em informática. “Não é para todos os sistemas do Detran, os administrativos ficam de fora. Mas não há como imaginar, hoje, a emissão de qualquer documento aqui sem essa estrutura da informática”, disse o diretor-geral, explicando que foram gastos cerca de R$ 100 milhões com essa tarefa, em 2024. “E gastaria mais, se fosse preciso”, completou.

Takane relata, entre os vários problemas desse setor, um “ataque hacker” do qual o Detran-DF foi objeto, recentemente. Estelionatários conseguiram modificar dados nos cadastros de algumas Carteiras Nacional de Habilitação (CNH) e dar baixa em veículos apreendidos. A Polícia Civil do DF agiu e já conseguiu prender parte da quadrilha: seis foram presos na Asa Norte, quando estavam liberando carros do depósito, e outros dois no Gama.

O diretor-geral não descarta que a quadrilha conte com gente infiltrada dentro do Departamento de Trânsito - que conta com 1.343 servidores com vínculo e outros 45 sem vínculo. “Havia uma política liberal de senhas de acesso ao sistema que eu determinei que fosse revista. Era uma loucura, inacreditável até”, relata Takane.

Segundo ele, o desafio nesse setor é tamanho que nesses 20 meses já teve de trocar por quatro vezes o diretor da área de informática. “Estamos buscando uma solução o mais rapidamente possível para termos um novo parque tecnológico”, relata Takane.

Ele mesmo foi vítima de um estelionatário, que age usando o nome do Detran-DF. Takane recebeu um e-mail fraudulento, no qual um golpista, passando-se pelo Detran-DF, informava sobre uma falsa multa de trânsito no valor de R$ 2.934,70, vinculada a um veículo registrado em seu CPF.

O e-mail, enviado para o endereço pessoal de Takane, incluía um link para "visualizar" a multa fictícia e para quitá-la. O remetente usava um e-mail com o domínio "detran.sac", simulando um contato oficial. A orientação é que os motoristas fiquem alertas. "Em casos assim, procure a polícia", afirmou.