"Uma coisa é música eletrônica. Outra coisa é usar a música eletrônica na música", reflete o DJ Meme ao definir a filosofia de trabalho do segundo volume de "Clássicos Reboot", projeto de música eletrônica aplicada à MPB. Já nas plataformais digitais, o álbum reúne dez canções nacionais icônicas transformadas através de remixes que preservam a essência original enquanto amplificam sua potência sonora.
Para o Dj e produtor, o grande desafio reside em criar novidades consistentes mantendo todos os elementos já gravados. "Usar a voz original do artista e mudar toda a música é fácil, mas trazer uma novidade que agrade o público usando tudo o que já estava gravado é o mais difícil", explica.
O projeto, revela, é uma homenagem indireta ao arranjador Lincoln Olivetti, cujo trabalho inovador dos anos 1970 e 80 ganha nova dimensão nos remixes. Faixas como "Lábios de Mel" (Tim Maia), "Vida Vida" (Ney Matogrosso) e "De Bar em Bar" (Cassiano) destacam a contribuição revolucionária do músico para a sonoridade pop brasileira. "Ele trouxe uma sonoridade internacional. Elas tinham uma pegada de pista, apesar de não serem eletrônicas", observa Meme.
A metodologia do DJ consiste em "fortificar o arranjo, a voz e os instrumentos com uma tecnologia sofisticada de mais de 40 anos depois". O processo envolve estender tempos, reforçar solos e duplicar elementos, sempre preservando a beleza dos arranjos originais. Ocasionalmente inclui batidas eletrônicas, mas sem comprometer a estrutura musical estabelecida.
Marcos Valle representa um caso especial no álbum. Além de ter seu hit "Mentira" (1973) transformado no "Celebration Remix", o compositor voltou ao estúdio para gravar um novo piano especialmente para a versão. Meme trabalhou cada instrumento da gravação original - que contava com a banda Azymuth - e inseriu o novo solo de Valle no meio da faixa.
"Alagados", dos Paralamas do Sucesso, recebe tratamento especial, com sua veia afro-latina elevada à potência máxima. O remix de quase nove minutos reforça a virada sonora da banda do rock para o reggae em "Selvagem" (1986), incluindo beats e bateria eletrônica que "dobram" com a gravação original de João Barone. A participação de Gilberto Gil, antes restrita aos backing vocals, ganha destaque com apresentação de Herbert Vianna e solo no primeiro refrão.
Duas faixas receberam abordagem mais radical: "Malandragem" teve arranjos recriados e instrumentos regravados, contando com participação especial de Frejat na guitarra e voz, criando o primeiro registro conjunto dele com Cássia Eller. "Maresia" (Marina Lima) migrou para o house underground com superprodução incluindo bateria programada, baixo, teclado, flauta, cordas e solo de órgão.
O álbum encerra com "Azul" (Djavan/Gal Costa) e "Bye Bye Brasil" (Chico Buarque), esta última inspirada nos bailes funk dos anos 80. A versão de Chico recebeu elogios de Roberto Menescal.