Formar leitores, qualificar profissionais para orientação de quem frequenta bibliotecas, aumentar o interesse pela leitura e fazer da tradição oral um documento literário. Essas são algumas das metas alcançadas na biblioteca Manuel Ignácio da Silva Alvarenga, em Campo Grande, em estratégia coordenada pela diretora Pituka Nirobe, à frente da instituição desde 2019. A ampliação do acesso ao livro e a inclusão pela leitura, que estão dentro do programa Bibliotecas do Amanhã, da Secretaria Municipal de Cultura, foram alguns dos pontos fortes para a escolha do Rio de Janeiro como Capital Mundial do Livro em 2025, pela Unesco.
“O programa já reformou 19 bibliotecas da cidade e vai digitalizar acervos, aumentando a atratividade para o público. Hoje, essas bibliotecas se tornaram centros culturais, com diversas atividades para conquistar uma população que se afastou da leitura, hábito disseminado na primeira infância, nas histórias contadas por pais e avós, mas que se perde na maturidade. Ao entrarem na biblioteca, eles reencontram o livro, que é uma ferramenta da inclusão social, o denominador comum da cultura, da ciência e de todas as expressões artísticas”, comentou, na última segunda-feira, o secretário municipal de Cultura, Lucas Padilha, ao receber Pituka para um debate no estande Rio Capital Cultural do Livro, na Bienal do Livro 2025.
Ao lado da diretora-executiva da Biblioteca Nacional, Suely Dias, Pituca contou como fez a aproximação com a população do bairro, que congrega mais de 352 mil moradores, numa área de 104 quilômetros quadrados, com o ambiente do livro. “Hoje, a frequência é de 60 pessoas por dia, embora o espaço comporte apenas 40 pessoas. Ao lado de quem vai à biblioteca para fazer pesquisa, está o que quer pegar um livro para ler, o que espera a hora de ouvir histórias – e não apenas de contadores. Transformamos a biblioteca em um local não apenas guardião, mas gerador de novas histórias. Os pais e avós de alguns frequentadores são analfabetos. Incentivamos, então, que eles venham contar sua experiência, situações de vida, e que os filhos e netos escrevam esses relatos – que guardamos no nosso acervo”, disse Pituca.
Escritora e contadora de histórias, Pituka percorre escolas locais e distribui livros para alunos que não conhecem a biblioteca Manuel Ignácio da Silva Alvarenga. Tanto em outras bibliotecas do bairro quanto em centros culturais da região, ela tem dado cursos de auxiliar de bibliotecário para voluntários interessados em orientar a leitura dos que frequentam tais espaços.
“Dentro da Manuel Ignacio, temos um curso regular, que oferecemos de acordo com a procura. Já temos 28 inscritos para a turma de agosto. E esses cursos se multiplicam porque nem sempre os qualificados podem continuar trabalhando, já que, às vezes, arrumam emprego ou têm que cuidar de alguém da família. No entanto, esse voluntariado aumenta a frequência nas bibliotecas”, afirmou Pituca, que tem buscado destacar no acervo títulos de autores afrodescendentes ou indígenas. “Boa parte da população de Campo Grande descende dessas etnias, então, é importante que se vejam representados ao lado dos escritores eurocentristas”, acredita Pituka, ela mesma quilombola, que procura valorizar a sabedoria oral dessas comunidades.