Por: Jorge Vasconcellos

Soberania x anistia: disputa política marca atos do 7 de setembro

Divididos, brasileiros celebram o Dia da Independência | Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

De um lado, patriotismo, soberania nacional, fim da escala 6x1, isenção do IR até R$ 5 mil. De outro, anistia aos golpistas do 8 de janeiro, impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), apoio ao tarifaço de Donald Trump contra o Brasil. Essas e outras pautas conflitantes ganharão as ruas do país neste domingo (7), Dia da Independência, em manifestações convocadas por apoiadores do governo Lula (PT) e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Os atos vão ocorrer no momento em que a disputa política gira em torno de dois acontecimentos que estão interligados: os ataques do governo dos Estados Unidos ao país e o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado, que deve ter um veredito até a próxima sexta feira (12) no Supremo Tribunal Federal (STF).

O processo tem sido apontado por Washington como uma 'caça às bruxas' contra o ex-presidente e justificativa para a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e outras sanções já aplicadas. Ao mesmo tempo, parlamentares bolsonaristas e do centrão, coordenados com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tentam aprovar um projeto para anistiar todos os condenados por envolvimento com a tentativa de golpe.

Na quinta feira (4), o presidente Lula (PT), durante evento em Belo Horizonte (MG), convocou a militância e disse que lutar contra a anistia "é uma Batalha que tem que ser feita também pelo povo".

Centrais sindicais e movimentos populares que compõem as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo convocam a militância para a manifestação intitulada Ato pela Soberania, que acontece hoje em 40 municípios de 22 estados e no Distrito Federal.

Em São Paulo, o ato será na Praça da República, Centro, a partir das 9h. O trio elétrico de onde as lideranças falarão ficará estacionado na esquina da Ipiranga com a 7 de abril. A organização informou que 250 ônibus iriam se dirigir à cidade para a manifestação.

Para o Rio de Janeiro, estão programados o ato ‘Quem manda no Brasil é o povo brasileiro’ e o 31º Grito dos Excluídos, a partir das 9h, com concentração na esquina da Avenida Uruguaiana com Presidente Vargas.

Pautas nacionais

O presidente do Partido dos Trabalhadores, Edinho Silva, afirmou, durante coletiva de imprensa na sexta-feira (5), em Belo Horizonte (MG), que os atos do campo progressista vão expressar pautas nacionais voltadas ao bem-estar da população. No entanto, ponderou que não há a intenção de “medir forças” com a direita.

“Nós estamos indo às ruas para reforçar a nossa agenda e não queremos competir com ninguém, não queremos fazer correlação de forças com ninguém”, disse o dirigente petista.

“Nós não queremos um país autoritário, nós não queremos um país que normalize uma tentativa de golpe. O que nós estamos passando nesse momento no Brasil é muito grave. Você não pode banalizar que aqueles que perdem eleição tentem um golpe para que quem ganha eleição não seja empossado”, afirmou.

Parlamentares também convocam a militância. “Domingo teremos a oportunidade de mostrar que o povo brasileiro defende a democracia e protege sua soberania. Estaremos juntos pelo nosso país”, enfatizou a senadora Teresa Leitão (PT-PE), pela rede social X, detalhando que a concentração no Recife será a partir das 9h, no Parque 13 de Maio.

‘Perseguição’

Já as manifestações de apoiadores de Jair Bolsonaro vão reforçar o discurso de que o Brasil é governado por um regime de exceção e que o ex-presidente sofre uma perseguição do STF, especialmente do ministro Alexandre de Moraes, relator do processo da tentativa de golpe.

Os atos de hoje ocorrem às vésperas das sessões em que os ministros do STF vão apresentar seus votos pela condenação ou pela absolvição de Bolsonaro e outros sete réus do chamado ‘núcleo crucial’ da tentativa de golpe de Estado.

“Povo abençoado do Brasil, está chegando a hora!”, escreveu pastor Silas Malafaia, em uma publicação na rede social X acompanhada de um vídeo.

“Está chegando a hora em favor da nossa liberdade e contra essa perseguição política vergonhosa. 7 de setembro em todas as cidades do Brasil, povo nas ruas. Em Brasília, a partir de 10 horas da manhã, na torre de televisão. Rio de Janeiro, a partir de 11 horas da manhã, na praia de Copacabana. E em São Paulo, Avenida Paulista, a partir das 3 horas da tarde. Vamos lá!”, diz o pastor.

“Vamos continuar intercedendo e agindo”, emenda a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro, no mesmo vídeo de Malafaia.

O deputado federal e pastor Marco Feliciano (PL-SP) também participa da gravação. “Neste dia 7 de setembro, nós não iremos apenas relembrar o grito de independência dado no passado. Nós iremos renovar o nosso grito no presente, declarando juntos que não seremos cúmplices do silêncio.

“Chegou a hora de reagir, reaja Brasil. Nós não aguentamos mais tanta injustiça e tanto autoritarismo”, disse, na mesma gravação, Fernando Holiday, ex-vereador paulista pelo PL e membro do Movimento Brasil Livre (MBL).

Mobilização

Nos últimos anos, as manifestações bolsonaristas, embora cada vez menores, reuniram um número maior de participantes em comparação às do campo progressista. Porém, a escalada da ofensiva de Donald Trump contra a independência do país e de suas instituições, em meio a passagem do 7 de setembro, pode estimular a militância a diminuir ou até mesmo reverter a diferença neste domingo.

Da parte do governo, a estratégia tem sido propagar um discurso em defesa da soberania nacional e apontar que políticos auto intitulados 'patriotas' são, na verdade, traidores da pátria por se aliarem aos ataques dos Estados Unidos contra o Brasil.

Pronunciamento

Durante pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, na noite de sábado (6), o presidente Lula criticou a interferência do governo dos Estados Unidos no Brasil. Ele afirmou que o país não aceitará "ordens de quem quer que seja".

Também foram alvo de críticas o que o petista chamou de "traidores da pátria”, citando políticos que "estimulam ataques" ao país, em referência ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), do qual não citou o nome. O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está nos Estados Unidos desde fevereiro articulando sanções do governo Donald Trump contra o Brasil.

O presidente fez menções veladas aos ataques dos Estados Unidos e defendeu o PIX, alvo de uma investigação aberta pelo governo americano. Ele também destacou a necessidade de regulamentação das redes sociais e a independência do Judiciário.

Desfile cívico

Na manhã deste domingo, a partir de 9h, o presidente Lula participará do Desfile Cívico-Militar de 7 de Setembro, que tem três temas: Brasil dos Brasileiros; COP30 e Novo PAC; e Brasil do Futuro. Ministros e autoridades devem acompanhar o evento.

O desfile contará com um esforço conjunto entre os órgãos de segurança pública do Distrito Federal, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República e o Ministério da Defesa.

O Comando Móvel da Polícia Militar do Distrito Federal estará presente no local. Unidades especializadas da corporação, como Cavalaria, BPCães e Bope, e da Polícia Civil, como a Divisão de Operações Especiais (DOE) e a Divisão de Operações Aéreas (DOA), estarão de prontidão. Toda a região será monitorada por câmeras e drones.

O desfile contará com a participação das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica), além da tradicional apresentação da Esquadrilha da Fumaça.