Lula manda recado para Trump: 'Essa aposta pode não dar certo para eles'

Durante lançamento de plano para mitigar efeitos do tarifaço, presidente alertou para o aumento dos preços nos EUA

Por Jorge Vasconcellos

O presidente Lula

O presidente Lula afirmou, nesta quarta-feira (13), que o tarifaço imposto pelo governo de Donald Trump a diversos países pode acabar prejudicando os próprios cidadãos dos Estados Unidos. Ele tratou do assunto no Palácio do Planalto, durante o lançamento do Plano Brasil Soberano, destinado a proteger exportadores e trabalhadores afetados pela tarifa de 50% imposta por Washington a produtos brasileiros.

Segundo o presidente, o aumento das tarifas para produtos importados deve elevar a inflação nos EUA. “Essa aposta que o governo americano está fazendo pode não dar certo para eles. Pode não dar certo. Porque ontem eu vi, no jornal que me entregaram, um quilo de contrafilé nos Estados Unidos a 150 dólares. Eu não sei que carne é essa, mas estava lá a tabela da carne”, disse Lula, que também comparou as realidades de Brasil e EUA.

“Aqui no Brasil a gente vai continuar assustando muita gente, porque a gente vai continuar melhorando a nossa produção, seja de milho, seja de soja, seja de frango, seja de feijão, seja de arroz, seja de café, a gente vai continuar melhorando a produção”, afirmou.

Durante a solenidade, Lula assinou a Medida Provisória do Plano Brasil Soberano, que incentiva investimentos em setores estratégicos e busca assegurar a continuidade do desenvolvimento econômico do país.

A MP direciona R$ 30 bilhões do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) para crédito com taxas acessíveis, além de ampliar as linhas de financiamento às exportações; prorrogar a suspensão de tributos para empresas exportadoras; aumentar o percentual de restituição de tributos federais, via Reintegra; e facilitar a compra de gêneros alimentícios por órgãos públicos.

Tarifaço injusto

Lula disse que não há justificativa econômica para as tarifas adotadas contra o Brasil e as relacionou ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no Supremo Tribunal Federal (STF), por tentativa de golpe de Estado.

“O que é desagradável é que as justificativas para impor sanções ao Brasil não existem. Na questão comercial, por exemplo, é inadmissível alguém dizer que tem déficit com o Brasil quando, nos últimos 15, o superávit deles [EUA] foi de 410 bilhões de dólares se colocar bens e serviços”, disse o presidente.

“A segunda coisa é que, aqui no Brasil, nós temos um poder judicial em torno do que está garantido na nossa Constituição de 88, e o Poder Executivo e o Congresso Nacional não têm nenhuma influência em relação ao julgamento que está acontecendo na Suprema Corte. E ninguém está desrespeitando regra de direitos jurídicos, humanos, como estão tentando apresentar ao mundo”, enfatizou.

“Porque os nossos amigos americanos, toda vez que eles resolvem brigar com alguém, eles tentam criar uma imagem de demônio contra as pessoas que eles querem brigar”, acrescentou.

Nesse ponto, Lula voltou a defender a lisura do julgamento do STF sobre a tentativa de golpe. “O Brasil não tinha, efetivamente, nenhuma razão para ser taxado, e tampouco aceitaria qualquer pecha de que nós não respeitamos por direitos humanos, que o julgamento está sendo feito de forma estranha”, afirmou.

“Na verdade, o que estamos fazendo é aquilo que é feito apenas em país democrático, julgando alguém com base em provas coletadas, em testemunhas e com total direito à presunção de inocência. Isso é democracia elevada a sua quinta potência. Coisa que eu não tive quando eu fui julgado, e eu não reclamei”, afirmou.

BRICS

Lula afirmou ainda que, em razão das dificuldades de negociação com os Estados Unidos, o Brasil vai buscar novos parceiros comerciais.

“Nós vamos continuar vendendo as coisas, se os Estados Unidos não querem comprar nós vamos procurar outros países. Então, ao invés de ficar chorando aquilo que nós perdemos, vamos ficar procurando ganhar num outro lugar. O mundo é grande e está ávido para fazer negociação com o Brasil”, afirmou o presidente.

“Todo mundo sabe que nós somos do bem, todo mundo sabe que a gente não quer brigar com ninguém, que a gente faz concessões, mas a gente não merecia isso. Claro que é grave, o que é grave é que não foi só conosco, foi com o mundo. Muita gente dizia ‘a Índia é muito pró-americana’, mas a Índia foi taxada em 50 por cento”, disse.

Lula anunciou que está sendo organizada uma teleconferência dos BRICS para discutir formas de intensificar as trocas comerciais entre os países do bloco. Disse já ter conversado com líderes de países como Índia, China e Rússia e que falará também com governantes da Alemanha e da França.

“Porque é importante lembrar que, daqui a pouco, alguém vai começar a dizer 'não, o Brasil está sendo punido por causa dos BRICS'. É importante lembrar que esses caras dos BRICS, que o Brasil tem com eles uma balança comercial de 60 bilhões de dólares, o dobro daquilo que nós temos com os Estados Unidos. E nós queremos crescer mais, nós queremos vender mais e queremos comprar mais”, afirmou.