Por:

Conteúdos via streaming: a influência da ficção na vida real

Por Francisco Guarisa*

Os tempos recentes foram marcados por um crescimento significativo no consumo deste tipo de plataforma, não só pelo isolamento social provocado durante a pandemia como pela ampliação de sua oferta. Os números são impressionantes e a diversificação não para de crescer. Netflix, Amazon Video, Disney+, Globoplay, HBOplus, Paramount+ são algumas das principais ofertas. Porém, não podemos esquecer do gigante Youtube, que é a plataforma de vídeos preferida dos brasileiros e já é acessado por mais de 105 milhões de pessoas mensalmente no Brasil. De acordo com pesquisa realizada pela Nielsen no último trimestre de 2020, 42,8% da população brasileira assiste a conteúdos de streaming diariamente e quase 44% pelo menos uma vez por semana.

O Brasil tem se mostrado em franca ascensão dentro deste universo e para comprovar sua relevância, cito o exemplo do Netflix, que é líder global nesse segmento e o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de assinantes de todo o mundo. Esse modelo de entretenimento já mostra um favoritismo por parte dos brasileiros e tal fato pode ser comprovado pela quantidade de assinaturas do Netflix, que ultrapassou a de TV a cabo do país. Um poder de escolha que eliminou os breaks comerciais e trás com ele o conforto e a conveniência de consumo do seu jeito e no seu tempo.

Contudo, além dessa conveniência pela rapidez, independência e facilidade acesso, algumas questões comportamentais começaram a se destacar, mudando a dinâmica nessa relação de consumo e na vida das pessoas. Temas como ansiedade, inquietude, desejo de “maratonar” uma série, interferência no sono, entre outros, começam a fazer parte das discussões cotidianas e merecem um cuidado especial e uma reflexão sobre os limites nessa “relação”. Além disso, as estratégias ligadas ao consumo que essas plataformas e suas produções oferecem, têm mudado a dinâmica de como empresas e marcas começaram a analisar o segmento e perceberem que ali existe um mar de oportunidades.

Quem não pensou em voltar a jogar xadrez em função da série O Gambito da Rainha ou resolveu adquirir bonecos colecionáveis do Game of Thrones? Ou ainda não comprou uma camisa ou caneca alusiva à superpremiada série Breaking Bad e um Baby Yoda igual ao da série O Mandaloriano? Esse tipo de consumo, de alguma forma, estreita psicologicamente a relação do usuário com essas produções, que geraram algum tipo de impacto positivo em suas mentes. E, até mesmo, podem gerar subliminarmente uma relação de dependência, provocada pela ansiedade na espera de uma nova temporada (ou frustração pelo seu término).

A verdade é que estamos diante de uma ferramenta poderosa de influência, capaz de abrir a nossa imaginação e nos fazer viajar para novas culturas e perspectivas. Uma ferramenta capaz de nos inspirar, promover mudanças, contribuir para reflexões e quebrar barreiras. Por outro lado, ela também pode alterar nosso comportamento usual e provocar reações que influenciem negativamente no nosso dia a dia, quando não conseguimos lidar com algum tipo de frustração provocada por alguma situação inesperada nesta “convivência”.

Por fim, vale aqui uma reflexão sobre quais são e serão os limites que deveremos impor neste relacionamento com estas plataformas e de quanto tempo estaremos dispostos a dedicar a esse tipo de entretenimento. Caso contrário seremos abduzidos em série ou esperaremos automaticamente pelo fim até que os olhos se fechem completamente, vencidos pelo cansaço.

*Consultor e Executivo de Marketing e Gestão

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.