A frase "o não a gente tem, vamos tentar o sim" nunca fez tanto sentido para parte de segurados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS): o Tribunal de Contas da União (TCU) estima que 10,94% negativas automáticas para concessão de benefícios do INSS em 2024 foram indevidas. Se contadas as manuais, são mais 13,20%. Fazendo um total de, pelo menos, 24,14% pedidos negados.
Para o ministro Aroldo Cedraz, relator do processo no TCU, "indeferimentos indevidos criam barreiras de acesso ao direito dos segurados, podendo acarretar risco à própria subsistência do requerente e dos seus eventuais dependentes, dado o caráter alimentar desses benefícios".
Por conta das falhas identificadas, a Corte de Contas deu um prazo de 180 dias para o INSS adotar medidas para impedir a concessão ou o indeferimento de benefício sem a formalização no sistema gerenciador de tarefas (GET). O período acaba agora em setembro.
"Foram avaliados os pedidos de benefícios previdenciários indeferidos manualmente pelo INSS em 2023 e os indeferidos automaticamente entre janeiro e maio de 2024. A fiscalização do TCU identificou que tanto o percentual de desconformidades na análise manual (13,20%) quanto o percentual de desconformidades na análise automática (10,94%) estão acima do limite máximo aceitável", afirmou o ministro-relator Aroldo Cedraz.
O TCU determinou ao INSS que compatibilize as metas de produtividade e a pontuação para realização de exigência com a complexidade da análise requerida. A autarquia deverá ser ágil no ajuste de metas relacionadas à indisponibilidade dos sistemas.
O INSS terá de dar publicidade a todos os servidores do reconhecimento inicial de direitos sobre as desconformidades encontradas. Além disso, deverá tornar as respostas do suporte técnico rápidas e claras para aplicação no caso em análise e oferecer treinamentos alinhados com a necessidade de capacitação dos servidores.
Outro ponto identificado foi a falta de incentivo para a correta motivação do ato de indeferimento, bem como da efetiva comunicação com os segurados, uma vez que essas etapas aumentam a complexidade das análises realizadas. Esse aumento da complexidade, porém, não é refletido na pontuação dos servidores.
"É um equívoco do INSS insistir em mensurar a produtividade dos servidores pelo número de processos analisados, deixando em 2º plano a qualidade da fundamentação das decisões. Isso pode levar o servidor a optar pela solução aparentemente mais rápida, que é o indeferimento", observou o ministro Aroldo Cedraz.
Cedraz falou ainda sobre a cultura organizacional da instituição. "Em resposta a nosso questionário, os próprios servidores do INSS admitiram que se sentem pressionados a priorizar números, em detrimento do atendimento de qualidade ao cidadão. Assim são mantidas falhas que poderiam ser corrigidas com uma gestão mais atenta à responsabilidade social da previdência", explicou.
Sem recurso
A auditoria aponta que muitos segurados não recorrem da decisões administrativas de indeferimento por parte do INSS. Alguns recorrem ao Poder Judiciário, tendo de usar seus recursos para pagar um advogado, o que contribui para o grande volume de processos na Justiça Federal.
"As causas identificadas para o indeferimento foram várias, mas chamo a atenção para os incentivos concedidos pelo próprio INSS aos seus servidores para a análise inadequada. Como a produtividade é medida em razão da quantidade de processos analisados, há o incentivo para que se esforcem para indeferir os requerimentos", destacou Cedraz.