Nova norma da Receita dá a fintechs mesmas obrigações dos bancos

Medida é adotada um dia após megaoperação deflagrada contra uso do sistema financeiro para lavagem de dinheiro do PCC

Por Jorge Vasconcellos

Plataforma da Receita vai distribuir, em tempo real, tributos entre os entes federativos

A Receita Federal publicou no Diário Oficial da União desta sexta-feira (29) uma instrução normativa que dá às fintechs o mesmo tratamento dos bancos. A medida foi tomada um dia após a megaoperação deflagrada contra um esquema de adulteração de combustíveis e de lavagem de dinheiro ligado à facção Primeiro Comando da Capital (PCC).

As fintechs são empresas que usam a tecnologia para oferecer serviços financeiros de forma mais simples e rápida que bancos tradicionais.

As investigações lideradas pela Receita Federal e pela Polícia Federal apontam que o PCC movimentou R$ 140 bilhões entre 2020 e 2024 e que lavou dinheiro por meio de fintechs e de pelo menos 42 fundos de investimento, a maioria deles com escritórios na Avenida Faria Lila, maior centro financeiro de São Paulo. Conforme as apurações, esses fundos têm um patrimônio de R$ 30 bilhões.

A norma publicada hoje determina que as fintechs passem a apresentar informações por meio da e-Financeira — sistema já usado há mais de 20 anos por bancos tradicionais para reportar movimentações financeiras à Receita.

Conforme o texto, o objetivo da Receita é o "combate aos crimes contra a ordem tributária, inclusive aqueles relacionados ao crime organizado, em especial a lavagem ou ocultação de dinheiro e fraudes".

Com a nova normativa, a Receita espera reduzir a vulnerabilidade do sistema de pagamentos, garantir maior rastreabilidade das operações financeiras e ampliar a cooperação entre órgãos de fiscalização, Polícia Federal e instituições do mercado.

Segundo o órgão, não se trata da criação de novas regras, mas da aplicação das mesmas definições previstas na Lei nº 12.865, de 2013, que regulamenta o Sistema de Pagamentos Brasileiro. Essa observação é necessária, segundo o Fisco, para evitar novos ruídos de que o governo pretende taxar o Pix, já que esse boato, que viralizou no início do ano, acabou barrando a ampliação da regulação sobre as fintechs naquela ocasião.

Febraban

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) apoiou a medida e afirmou que a nova regulamentação é um “marco decisivo” no combate ao crime organizado, ao trazer mais equilíbrio entre inovação e segurança no sistema financeiro.

Para a entidade, é essencial que todos os agentes que atuam no setor, autorizados ou não pelo Banco Central, obedeçam às mesmas regras de integridade, monitoramento e comunicação de operações suspeitas.

“A concorrência é saudável e bem-vinda, mas precisa ocorrer em condições de igualdade, com todos submetidos às mesmas normas de prevenção à lavagem de dinheiro”, afirmou a Febraban em nota.