Assim como nós, os humanos

Novo espetáculo do Bando de Palhaços, 'Como Nos Livros' celebra 15 anos de grupo com uma fábula adulta que provoca reflexões sobre a natureza de nossa própria espécie

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Em 'Como Nos Livros', as traças se comportam como humanos quando se vêem diante da morte

Novo espetáculo do Bando de Palhaços, 'Como Nos Livros' celebra 15 anos de grupo com uma fábula adulta que provoca reflexões sobre a natureza de nossa própria espécie

"E se as traças, ao devorarem livros, também absorvessem a linguagem e a complexidade humana?" É com essa instigante provocação que o Bando de Palhaços, celebrando 15 anos de trajetória, apresenta seu novo espetáculo adulto, "Como nos Livros". A montagem, que marca o segundo trabalho do grupo voltado para o público adulto após "Adeus, Ternura", de Rafael Souza-Ribeiro e direção de Rodrigo Portella em 2022, convida a uma reflexão profunda e bem-humorada sobre a condição humana, sob a direção de André Paes Leme e texto de Cecilia Ripoll.

Em cena, o público é transportado para um abafado apartamento em Copacabana, onde cinco traças vivem confinadas, cada uma com sua morada literária peculiar: "O Cortiço", "O Capital", o "Código Penal" e até um cartão postal antigo. A aparente harmonia é quebrada quando uma delas transgride uma regra fundamental de convivência, devorando o miolo de um livro ainda em uso, pertencente ao dono da casa. O caos se instala, e as traças se veem com apenas 24 horas para elaborar um plano de salvação antes de serem exterminadas. Entre delírios, citações e planos improváveis, essas criaturas tentam escapar da morte certa, enquanto ironicamente repetem os mesmos padrões humanos que tanto criticam. A dramaturga Cecilia Ripoll, que já foi indicada ao Prêmio Shell RJ por duas vezes como autora, explica a essência dessa metáfora central ao espetáculo: "A traça é usada para traçar uma metáfora com o humano, que, como ela, carrega a contradição de destruir e corroer sua própria moradia."

A dramaturgia escrita especialmente para o grupo, nasceu de um processo coletivo com o elenco. A autora já havia colaborado com o grupo na peça online "Na Borda do Mundo", indicada ao Prêmio APTR 2021. Inspirada na experiência cômica de cada integrante, Ripoll criou personagens ricos em personalidade, contradições e excentricidades, que prometem cativar a plateia. "Nós, do Bando, gostamos da possibilidade de nos lançarmos em aventuras investigativas diferentes a cada espetáculo, do risco de novas descobertas. A dramaturgia da Cecilia propõe um mergulho na palavra, de uma maneira que ainda não tínhamos feito juntos", conta Ana Carolina Sauwen, uma das fundadoras do grupo.

O espetáculo reforça a maturidade artística do grupo em seus 15 anos, consolidando sua pesquisa continuada, que integra palhaçaria e teatro em projetos que incluem formação artística através de oficinas.

A direção de André Paes Leme marca seu reencontro com a linguagem cômica. "O espetáculo traz uma discussão muito rica, de forma inusitada: são insetos que discutem a humanidade. Isso é muito original. Estou muito feliz com a profundidade crítica e a originalidade do projeto. Assumir a presença do público é importante para que não se faça uma leitura realista da peça. Assim, o aspecto crítico fica mais forte e o espetáculo se torna mais leve e vibrante."

O elenco, composto por Ana Carolina Sauwen, Filipe Codeço, Mariana Fausto, Pablo Aguilar e o ator convidado Fabrício Neri explora o limite entre o humano e o inseto, entre a palavra e o instinto, entre o delírio e a razão, convidando o público a uma experiência teatral que nos leva a enxergar a nós mesmos sob uma nova perspectiva.

SERVIÇO

COMO NOS LIVROS

Teatro de Arena do Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160)

Até 7/12, de quinta a sábado (20h) e domingo (18h)

Ingressos: R$ 30, R$ 15 (meia) e R$ 10 (associado Sesc)

Horário: quinta a sábado, às 20h; domingo, às 18h