A cegueira nossa de cada dia

O Grupo Galpão estreia no Rio uma das adaptações teatrais mais ambiciosas do repertório da companhia. "(Um) Ensaio sobre a Cegueira" faz do clássico romance de José Saramago uma experiência cênica que provoca uma reflexão urgente sobre os tempos atuais. A montagem, com direção e dramaturgia de Rodrigo Portella e direção musical de Federico Puppi, confrontam a prosa ensaística do Nobel português com questões que atravessam o Brasil e o mundo três décadas após a publicação da obra.

"Ensaio sobre a Cegueira" narra uma epidemia de "cegueira branca" que assola uma cidade, privando seus habitantes da visão e expondo a fragilidade dos pactos civilizatórios. Para Portella, a obra é a alegoria, quase satírica, de uma sociedade mergulhada numa espécie de produtivismo capitalista que o próprio Saramago chama de "mal branco". "Não é sobre não poder ver, como uma deficiência visual, é sobre não enxergar o que se vê. Estamos cegos diante de tanta imagem, perdemos a capacidade de ler o mundo em camadas mais complexas", conextualiza o encenador.