Cria de Marechal Hermes, Felipe Silcler conta que percebeu que não era mais criança quando começou a ser impedido de pegar os tradicionais doces de São Cosme e Damião nas ruas de sua vizinhança. E descobriu que atingia a maturidade quando começou a querer se unir aos adultos para ouvir as histórias contadas por seu avô, Sr. José Clemente, numa rodinha de cadeiras na calçada. O ator estreia no Teatro Municipal Gonzaguinha o solo "Raízes de Mim", espetáculo que entrelaça memórias pessoais e coletivas do subúrbio carioca.
Dirigido por Marcos dos Anjos, o trabalho nasceu das lembranças de infância de Felipe que mescla encenação, rito e conversa com o público, criando um espaço de confissão para chegar a temas como racismo e autodescoberta. "Escrever algo que falava de mim me travou em muitos momentos. Vários assuntos foram bem difíceis de tratar", diz o ator, conhecido pelo papel do jornalista Libério na novela "Novo Mundo".
A dramaturgia combina histórias reais do avô, que veio de Minas Gerais, com memórias próprias e imaginadas. "Ele sempre foi um griô, e eu só fui me dar conta disso durante o processo de construção deste espetáculo, quando ele já não estava mais aqui", reflete.
A montagem aposta na acessibilidade: o intérprete de LIBRAS Christofer Moreira atua no centro do palco, em diálogo direto com Silcler. "Esta é uma pesquisa onde investigo os formatos possíveis para ter a comunicação acessível dentro da cena", explica o diretor.
As apresentações coincidem com a semana de São Cosme e Damião, santos populares que marcaram a infância do ator. Na sessão de sábado, data da festa, haverá distribuição de saquinhos de doce para a plateia, resgatando a tradição que inspirou o espetáculo. "É sobre colocar as cadeiras nas portas das casas num dia quente de verão e ficar até tarde na rua, conversando sem ver a hora passar", define Silcler sobre a essência do subúrbio que leva ao palco.
SERVIÇO
RAÍZES DE MIM
Teatro Municipal Gonzaguinha (Rua Benedito Hipólito, 125 - Centro) | 26 a 27/9, às 20h
Entrada franca