José Flores de Jesus, ou melhor Zé Ketti, cantou o samba, as favelas e a malandragem carioca. Cantou também seus amores, o samba de protesto e foi autor de clássicos como "A Voz do Morro", "Opinião", "Diz Que Fui Por Aí", "Acender as Velas", "Leviana", "Máscara Negra" e muitos outros sucessos. Criou o primeiro grupo de samba de raiz "A voz do Morro", onde o jovem Paulinho da Viola começou a despontar. Toda a trajetória e relevância artística deste gigante do samba está no musical "Zé Ketti, Eu Quero Matar a Saudade!", que volta a ser encenado em apresentação única neste sábado (20) no Teatro Rival Petrobras.
Idealizado pelo ator e produtor Leandro Santanna, com texto de Cadu Caetano e direção geral de Márcio Vieira, o espetáculo busca reacender a memória e a importância do compositor nascido mo subúrbio de Inhaúma. A direção musical é assinada por Beá Ayòóla, e a produção geral fica a cargo de Marcelo Viégas. A montagem é uma celebração da cultura preta, das favelas e da força artística que moldou a identidade musical do país.
O musical é fruto de uma parceria entre a Companhia Teatral Queimados Encena e a Associação de Amigos José Bonifácio (AAJOB). No elenco, além de Leandro Santanna e Marcelo Viégas, estão Clarissa Waldeck, Fernanda Sabot, Negawal, Gustavo Maya e Otavio Cassiano. O projeto reconstrói o universo criativo do artista através de sete personagens, priorizando o período em que Zé Ketti integrou o Teatro de Opinião, movimento cultural que marcou a resistência artística durante os primeiros anos da ditadura militar.
A direção geral de Márcio Vieira é fortemente inspirada naquele espetáculo, destacando que o melhor fase do sambista foi justamente nesse formato, com outros companheiros que atuavam na mesma linha. Vieira ressalta a importância de retirar Zé Ketti do apagamento que sofreu ao longo dos anos, principalmente após seu falecimento em 1999, trazendo à luz o autor de mais de 200 obras catalogadas. "Precisamos entender o que motivou esse apagamento da memória do Zé Ketti, mesmo sabendo, de antemão, que um dos grandes motivadores, quiçá o maior, é o preconceito em torno do samba, da comunidade, da periferia", pontua o diretor.
Leandro Santanna, que dá vida ao sambista no palco em grande atuação, destaca a importância do personagem. "Zé Ketti foi muito mais do que um compositor de sucesso — foi uma voz da malandragem, do protesto e da dignidade preta. A nossa missão é reacender essa memória e celebrar esse legado com o povo que construiu essa cidade", afirma o idealizador do projeto. O desafio da direção foi encaixar o vasto repertório do compositor em pouco mais de uma hora de espetáculo, contextualizando suas canções no cotidiano do subúrbio.
Com elenco diverso, o espetáculo foi pensado para ampliar o acesso da população negra, periférica e LGBTQIA aos bens culturais. "Este musical não é só um espetáculo — é um resgate, um gesto político e poético. Queremos levar a arte para quem vive o samba no dia a dia, mas que raramente tem a chance de ver essa história no palco. É sobre democratizar, reconhecer e recontar nossa história com orgulho e arte", explica Viégas.
"Falar de Zé Ketti é falar do Rio, do Brasil e de uma identidade cultural forjada com suor, talento e resistência. Essa homenagem é urgente", reforça Santanna.
SERVIÇO
ZÉ KETTI, EU QUERO MATAR A SAUDADE!
Teatro Rival Petrobras (Rua Álvaro Alvim, 33 - Cinelândia)
20/9, às 19h30
Ingressos a partir de R$ 42