Felipe Lima: 'Gosto da ideia de fazer algo 'novo', mesmo que parta de uma obra pré-existente'

Por Cláudia Chaves - Especial para o Correio da Manhã

Felipe Lima, produtor teatral

Felipe Heráclito Lima tem nome de barão do Império. Mas como nome não é vocação e nem talento é um produtor contemporâneo, com um desfile de espetáculos totalmente diferente do que se vê na cena teatral, além de serem totalmente diferentes entre si. Um verdadeiro show runner, aquele é o produtor, mas também o criativo.

Com quase 15 anos de carreira como produtor cultural, Felipe Lima já se firmou como um dos nomes mais inquietos do teatro brasileiro. Ex-ator, descobriu nos bastidores sua verdadeira vocação: idealizar e viabilizar espetáculos que unem força artística e excelência de produção. No currículo, assina sucessos como "Ficções" e "Dogville", que conquistaram público e crítica. Agora, ele chega ao Rio com mais um projeto de sucesso absoluto: "Clara Nunes, a tal guerreira", peça que mergulha na trajetória e na música de uma das maiores intérpretes do Brasil.

Nascido e criado no Rio de Janeiro, Felipe começou a carreira nos palcos, mas logo percebeu que sua energia criativa se realizava mais plenamente na produção. Seu olhar como ex-ator traz um diferencial: a capacidade de compreender as necessidades da equipe artística com sensibilidade e objetividade.

Felipe também é conhecido pela habilidade em formar equipes coesas. Prefere projetos nos quais pode escolher a dedo seus colaboradores, buscando sempre sintonia de pensamento e paixão pelo trabalho. Essa visão, aliada a um planejamento rigoroso, tem feito suas montagens circularem com sucesso pelo Brasil, conquistando não apenas plateias, mas também temporadas prolongadas e prêmios.

Para ele, cada produção é uma experiência única — um encontro entre arte, técnica e emoção. Não à toa, suas peças costumam deixar o público com a sensação de ter vivido algo maior do que um simples espetáculo: uma verdadeira imersão no universo criado em cena.

Como aconteceu sua transição de ator para produtor?

Felipe Lima - Aconteceu de forma muito natural, orgânica. Em 2018, eu estava no meio de um processo em que atuava e produzia e, faltando cinco semanas para estrear a peça, percebi que não estava feliz.

O que te fez perceber isso?

Comecei a me questionar sobre a profissão, sobre as minhas escolhas. Num dado momento, entendi que não tinha prazer no ofício como ator, mas sim como idealizador cultural e produtor.

Ter começado como ator ajudou nessa mudança?

Muito. Ter iniciado como ator me deu uma visão mais sensível sobre o trabalho de empreendedor cultural. O desejo artístico fala mais alto sempre que penso em realizar um novo projeto.

De onde costumam vir as ideias para suas produções?

Normalmente, de mim mesmo. Foram poucas as vezes em que produzi algo que não partisse do meu desejo artístico — seja de encenar uma peça que li ou assisti, ou de adaptar um livro ou filme para o teatro.

Você prefere projetos inéditos?

Sim. Gosto da ideia de fazer algo "novo", mesmo que parta de uma obra pré-existente. Parte da alegria é escolher a equipe com quem vou trabalhar.

E como se dá essa escolha de equipe?

Dialogo muito com os parceiros para decidir, em comum acordo, quem vamos chamar para o projeto: autor, diretor, atores, cenógrafos, figurinistas… É um trabalho coletivo.

Por ter sido ator, você interfere no trabalho artístico?

Não diria interferir, mas colaborar. Existem diretores e autores mais abertos à colaboração e outros menos. Gosto de trocar, ouvir e ser ouvido.

E se não houver essa troca?

Para mim, não faz o menor sentido. É essencial que haja essa abertura.

E depois de Clara Nunes, o que vem?

Tenho três projetos previstos para estrear no ano que vem. Mas, por contrato, ainda não posso revelar.

SERVIÇO

CLARA NUNES - A TAL GUERREIRA

Cidade das Artes - Grande Sala (Av. das Américas, 5300 - Barra da Tijuca)

Até 31/8, sextas (20h), sábados (16h e 20h) e domingos (15h e 19h) | Ingressos a partir de R$ 45 e R$ 22,50 (meia)