Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA / TEATRO / VELOCIDADE: O tempo não para, não para

A cenografia de Luiz Dias e Carol Manso materializa o conceito de livro teatral através de uma mesa central que funciona como página | Foto: Igor Cerqueira/Divulgação

As discussões contemporâneas encaram as facetas do cotidiano, ao mostrar que as chamadas dores estão por toda parte, tornando o ambiente de trabalho insustentável para atingir o ritmo que o trabalho exige das pessoas. "Velocidade", do grupo mineiro Quatroloscinco Teatro Comum, faz do palco uma arena onde os elementos técnicos acompanham a narrativa como um motor em aceleração contínua.

A direção de Ricardo Alves Jr. e Ítalo Laureano valoriza a dramaturgia de Assis Benevenuto e Marcos Coletta. A iluminação de Marina Arthuzzi, desenhada com precisão, desenha o tempo e o espaço, transformando transições simples em saltos dramáticos. A trilha sonora, assinada por Barulhista, ganha vida em cena com a execução ao vivo de Marcos Coletta e Michele Bernardino. É uma sonoplastia viva, que respira em sincronia com os corpos em cena.

O cenário, assinado por Luiz Dias e Caroline Manso, possui inteligência cênica que cria um espaço em mutação constante, onde cada alteração serve ao discurso narrativo. Os figurinos de Caroline Manso funcionam como extensões dramáticas das personagens: híbridos sugerem um tempo fora do tempo, com cortes assimétricos e texturas que captam a luz, o que torna o guarda-roupa uma linguagem visual própria.

Um dos elementos surpreendentes é a presença de bonecos representando os personagens — figuras que funcionam como avatares. Esses corpos duplicados inserem uma camada simbólica à encenação: criam a relação entre identidade e representação, corpo e projeção. São presenças silenciosas que falam muito, reforçando na dramaturgia sobre quem somos em movimento. O elenco — Assis Benevenuto, Ítalo Laureano, Marcos Coletta, Michele Bernardino e Rejane Faria — apresenta um trabalho corporal e vocal de raro rigor. Cada gesto é estudado com minúcia, compondo um corpo coletivo de energia magnética e expressividade vibrante. Um verdadeiro trabalho de precisão e entrega, com a técnica exigida na contemporaneidade.

SERVIÇO

VELOCIDADE

Teatro I do CCBB RJ (Rua Primeiro de Março, 66 - Centro)

Até 13/7, de quarta a sábado (19h) e domingos (18h)

Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia)