Entre os dias 6 e 13 de julho, o Rio de Janeiro transforma-se mais uma vez num palco vibrante a céu aberto com a realização do 3º Festival de Teatro Amir Haddad. Com epicentro na Lapa, nosso mais tradicional bairro boêmio, o evento reafirma-se como um dos mais importantes encontros da arte pública no Brasil, celebrando o teatro de rua como gesto estético, político e transformador. Este ano, a programação traz um recorte inédito, reunindo cinco companhias teatrais de diferentes regiões do país que, além de encenar espetáculos emblemáticos, representam distintas formas de relação com o espaço urbano e com o público.
Do Rio, o grupo Tá Na Rua, fundado pelo próprio Amir Haddad, representa a alma do festival. Com mais de 40 anos de trajetória, o coletivo leva às ruas encenações que misturam crítica social, poesia, humor e música ao vivo. O uso de materiais reciclados e figurinos exuberantes transforma os corpos dos atores em esculturas vivas, despertando atenção até de quem apenas passa. O grupo é pioneiro na defesa do teatro como direito popular, fazendo do espaço público um campo de criação e encontro.
Vindo de Aracaju, o grupo Imbuaça traz a força poética e visual do Nordeste. Suas encenações, muitas vezes inspiradas em cordéis e contos populares, integram bonecos, cantigas e narrativas ancestrais que dialogam com as lutas contemporâneas. Há mais de quatro décadas, a trupe é referência em teatro popular e comunitário, tendo formado gerações de artistas e espectadores do Sergipe. Sua presença no festival representa a pulsação cultural do nordeste nas artérias do centro carioca.
Diretamente de Belo Horizonte, o Grupo Galpão acrescenta à programação uma poética que cruza rigor técnico com leveza cênica. Fundado em 1982, o Galpão é uma das mais prestigiadas companhias de teatro do Brasil, reconhecida internacionalmente pela sua pesquisa em Shakespeare, narrativas populares e fusão entre linguagem teatral e música. Em suas apresentações, o grupo mineiro costura elementos do circo, da commedia dell'arte e do teatro moderno, com uma profundidade humana que toca públicos diversos.
De Porto Alegre, o emblemático Ói Nóis Aqui Traveiz, Prêmio Shell de 2024, leva à cena uma abordagem combativa, política e visceral. Com mais de 40 anos de atuação, o grupo se notabilizou por levar espetáculos para ruas, escadarias e praças, muitas vezes abordando temas como repressão, ditadura e exclusão social. A sua estética intensa e o contato direto com o público fazem de cada espetáculo uma experiência catártica e participativa. O nome do grupo já denuncia a sua postura: direta, provocadora e impossível de ignorar.
Fechando o quinteto, os paulistanos do Pombas Urbanas trazem uma energia jovem e urbana, marcada pela fusão de teatro com performance, dança e intervenções visuais. Formado em regiões periféricas de São Paulo, o grupo aposta numa linguagem contemporânea e acessível, capaz de refletir os desafios e potências das grandes cidades. As suas criações dialogam com a juventude, a diversidade e as novas formas de expressão artística, convertendo a rua num laboratório criativo em constante ebulição.
Para além dos espetáculos, o festival acolhe este ano a Mostra Literária Laplavra, numa feliz coincidência com o título de Capital Mundial do Livro 2025, concedido ao Rio pela Unesco. A mostra reúne dramaturgias, cordéis e textos que dialogam com as artes da cena, promovendo encontros entre escritores, artistas e o público leitor. Haverá ainda uma série de oficinas, palestras e vivências sobre manifestações populares como o samba, o bumba meu boi, o funk e o ballroom, além de uma oficina especial de LIBRAS, promovendo acessibilidade e inclusão.
A programação também presta homenagem ao próprio Amir Haddad com a apresentação de espetáculos dirigidos ou supervisionados por Amir, com nomes consagrados como Marco Nanini, Clarice Niskier, Andrea Beltrão, Tonico Pereira, Gilson de Barros e Elisa Lucinda. A Mostra de Cenas Curtas e as exibições de filmes sobre a trajetória do diretor e da Arte Pública no Brasil completam a experiência.
O Manifesto Tá na Rua nos diz como Amir, que comemorou dia 2 de julho 88 anos, conceitua com precisão o compromisso do artista e do teatro. "Todo mundo pode viver sua expressão sem estar preso a um papel. Não se trata de ser artista ou não, mas de uma perspectiva do ser humano e do mundo. Não se trata só de todos os artistas serem operários mas, também, de todos os operários serem artistas. O ser humano não está condenado a ser só destruidor, consumista, egoísta como a sociedade nos leva a crer."
SERVIÇO
III FESTIVAL DE TEATRO AMIR HADDAD
De 6 a 13/7
Veja a programação completa em
@festivalamirhaddad