Um encontro triplo com Clarice Lispector no palco

Ocupação de coletivo do DF apresenta trabalhos que mesclam teatro e dança no CCBB até domingo, incluindo adaptação de contos de Clarice Lispector

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'Se eu fosse eu - Clarices' reúne três contos numa reflexão sobre questões do feminino

A Agrupação Teatral Amacaca, de Brasília, encerra nesta semana sua ocipação no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB RJ) onde está encenando três espetáculos: os adultos "2 2=5" e "Se eu fosse eu - Clarices", além do infantil "Os Saltimbancos". Definido pelo próprio grupo como uma "orquestra de atores", a Ata carrega o legado artístico de Hugo Rodas, diretor que marcou profundamente a cena teatral brasiliense até sua morte.

Sob sua orientação, o coletivo desenvolveu uma estética singular baseada na experimentação corporal, onde dramaturgias do corpo se transformam em espetáculos de intensa fisicalidade, permeados por coreografias, musicalidade e manifestos poéticos. "Os espetáculos são bem diversos. Somos um grupo que trabalha com o legado de Hugo Rodas, muito focado na fisicalidade, porém, com sua morte, estamos começando a experimentar outros formatos", explica um dos integrantes do grupo, formado por doze atores: Abaetê Queiroz, Camila Guerra, Diana Porangas, Dani Neri, Flávio Café, Iano Fazio, Juliana Drummond, Mateus Ferrari, Pedro Tupã, Victor Abrão, Márcia Duarte e Rosanna Viegas.

Montagem premiada

Entre os destaques da temporada está "Se eu fosse eu - Clarices", espetáculo que já conquistou indicações de Direção e Atriz Destaque para Rosanna Viegas no Prêmio Sesc Mais Cultura 2024. A montagem reúne três contos de Clarice Lispector para construir uma reflexão sobre questões que permeiam o universo feminino, transitando entre maternidade, sexualidade e espiritualidade através de imagens poéticas que incluem ovos, ratos, galinhas e maçãs como elementos simbólicos.

"Três atrizes se encontram com Clarice. Três atrizes se dirigem às Clarices que ressoam em si. Entre ovos, ratos, galinhas e maçãs percorrem os subterrâneos da psiquê feminina", descreve a proposta do espetáculo, que brinca com os tabus e contrastes típicos da escritora para abordar questões profundas de forma dinâmica e irônica.

A diretora e atriz Juliana Drummond observa como a recepção do público tem se transformado ao longo das cinco temporadas da peça. "É incrível ver como o público, com homens e mulheres de todas as idades, se conectam com a peça de maneiras diferentes. As mulheres encontram um espaço para se reconciliar consigo mesmas, para refletir sobre sua própria existência e buscar sua verdade. Um potente despertar. Os homens, já curiosos e atentos, por sua vez, são convidados a questionar suas próprias percepções e a se conectar com o universo feminino de uma forma mais reveladora e sensível", analisa.

SERVIÇO

SE EU FOSSE EU - CLARICES

Teatro 2 do CCBB RJ (Rua Primeiro de Março, 66 - Centro)

Até 29/6, quinta-feira (19h)

Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia)