CRÍTICA / TEATRO / OS MAMBEMBES: Mambembe cigano

Por Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Paulo Betti e Cláudia Abreu em 'Os Mambembes'

Do final do século XIX até o início do século XX, as companhias andavam pelo país apresentando peças, enfrentando condições precárias. Esse teatro era uma forma de resistência artística, levando cultura a lugares sem acesso a espaços culturais fixos e ajudando a popularizar o teatro.

A nova montagem de "Os Mambembes" é uma celebração para quem ama o teatro brasileiro em sua forma mais pura e apaixonada, conduzida com elegância pelos diretores Emílio de Mello e Gustavo Guenzburger. Preciso e sensível, o trabalho da dupla equilibra com habilidade o humor e a emoção presentes na trama. Sem perder o original, mantém-se o elo entre o passado romântico do teatro e as tensões modernas da arte em tempos tão desafiadores.

A qualidade das atuações vai além de um elenco estelar. Cláudia Abreu, Deborah Evelyn, Julia Lemmertz, Leandro Santanna, Orã Figueiredo e Paulo Betti, após quatro meses efetivamente mambembando pelo Brasil — apresentando-se em um ônibus-palco — continuam com a mesma luminosidade. Estão ali, experientes, com domínio técnico e o raro e difícil timing cômico. Embora pareça que lidam com estereótipos, todos os atores são capazes de imprimir elegância e profundidade em personagens multifacetados. Há energia, presença física e equilíbrio, mesmo com apenas seis atores dando vida a uma multiplicidade de papéis com performances afiadas.

Os Mambembes contam com um palco simples, mas rico em elementos cenográficos e figurinos que se transformam — e que, mais do que mostrar, abrem a imaginação da plateia. A montagem tem ritmo, invenção, e celebra a estética mambembe com um cenário em constante transformação, onde o lúdico provoca um dinamismo próprio do gênero.

Os Mambembes reafirmam a importância de espetáculos necessários. A resistência está lá, independentemente dos ventos que sopram contra. O sucesso, o final feliz, está na dedicação dos atores, diretores e criativos, que enfrentam tudo e todos pela necessidade apaixonada de fazer arte.

E por isso, aplaudimos de pé.

SERVIÇO

OS MAMBEMBES

Teatro Casa Grande (Av. Afrânio de Melo Franco, 290 - Leblon)

Até 22/6, de quinta a sábado (20h) e domingos (18h)

Ingressos entre R$ 80 e R$ 200