CRÍTICA TEATRO - SENHOR DIRETOR: Uma mulher do seu tempo

Por Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Senhor Diretor

Lygia Fagundes foi uma mulher muito, mas muito a frente de seu tempo. Foram 104 anos de talento, de luta, de posicionamento, de uma literatura ímpar que , ao mesmo tempo denunciando as feridas de opressão da condição feminina, construía personagens ímpares. É o caso de seu conto "Senhor Diretor" o qual, em forma de missiva, uma mulher tenta fazer ouvir sua voz, na contramão da história.

E desse barro, extraordinário, que Analu Prestes nos apresenta todos os conflitos, desejos, contradições, pequenas alegrias, tristezas sem cura no espetáculo. Em primeira pessoa, condizente com o gênero do conto, a carta, Analu extrai todos os sentimentos capazes de convergir, misturar e explodir na sexualidade reprimida, no amor abafado de uma professora, solteirona como o discurso preconceituoso da época, é capaz de explodir quando é uma figura invisível.

A pequena arena se transforma em palco gigante, um Maracanã para a grande intérprete, capaz de fazer jogadas de craque e apresentar inúmeros gols de placa à plateia. A direção de Silvia Monte é certeira para permitir que Analu coloque o peso nas palavras, mas mantendo os gestos tímidos, concisos, quase que escondidos, medrosos e tímidos ante o mundo que lhe incapacita.

Analu escolhe o figurino atemporal, definidor da personagem, da sua tentativa em se equilibrar em um pretenso passado da elite e o abandono em que vive na atualidade. A perda das amigas, os sobrinhos com relacionamento apenas formal encontram nas inflexões e nos gestos da atriz camaleônica e talentosa que é Analu.

Artista plástica, Analu também é a cenógrafa, que emoldura a vida limitada de Maria Emília. Todos os movimentos, por conta das dimensões da pequena arena que é o Espaço Abu, conseguem concentrar e colocar em foco a qualidade do texto que, apesar dos temas- morte, envelhecimento, solidão, é uma explosão de vitalidade.

SERVIÇO

SENHOR DIRETOR | Espaço Abu (Av. Nossa Sra. de Copacabana, 249/E) | Até 10/11, de sexta a domingo (20h) | Ingressos: R$ 100 e R$ 50,00 (meia)