CRÍTICA TEATRO - A MENINA ESCORRENDO DOS OLHOS DA MÃE: Nem Freud explica

 

A psicanálise, ainda que as pessoas se refiram, e muito, ao Complexo de Édipo, também tem uma importante referencial sobre a relação mãe e fiha. Para Freud (1856-1939), a mãe será definida como Outro onipotente ao qual a menina está inexoravelmente ligada em sua pré-história. Mas para Jacques Lacan (1901-1981), ela pode ser uma devastação para a filha. A mãe e seu amor (ou sua impossibilidade) são elementos essenciais para abordar o feminino.

"A Menina Escorrendo Pelos Olhos da Mãe" com o acerto do texto de Daniela Pereira de Carvalho e primorosa direção de Leonardo Netto, mostra, ao contrário do conceito corrente de "minha mãe, minha melhor amiga" a relação no ponto exato em que ocorre. A mãe, uma inimiga disfarçada no pretenso amor materno, é incapaz de sair de sua casca, mesmo quando tenta não construir uma relação narcísica.

As duas atrizes Guida Viana e Silvia Buarque trocam de geração, mas permanecem no lugar de mãe e filha. A interpretação de Guida é transbordante na dubiedade da mãe e Silvia é a filha que tenta se negar, mas fracassa, cuja atuação nos mostra esse papel incapaz de se erguer.

O cenário, o figurino, a iluminação são o perfeito suporte para a história fechada em diálogos que não se troca e nem se escuta. Elisa (Guida), aos 70 anos, reencontra depois de muito tempo sua filha Antonia (Silvia Buarque) com 50. Passados 20 anos, a mesma Antonia, já aos 70 (agora vivida por Guida), conhece a sua filha perdida, Helena (agora vivida por Silvia), aos 50.

Além da enorme tristeza de se ver que as relações se repetem em todos os seus impasses, a peça, um belo tapete de retalhos de rara sutileza, nos prova que a história se repete como farsa.

SERVIÇO

A MENINA ESCORRENDO DOS OLHOS DA MÃE

Teatro Poeira (Rua São João Batista, 104 - Botafogo)

Até 29/9, de quinta a sábado (20h) e domingo (19h)

Ingressos: R$ 100 e R$ 50 (meia)