Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA TEATRO - ALGUMA COISA PODRE: Há algo de ótimo no reino dos musicais

Em 'Alguma Coisa Podre' nasce o 1º musical do mundo | Foto: Caio Galucci/Divulgação

É muito raro encontrar-se, no mesmo espetáculo, o que compõe todos os elementos corretos de um gênero. Alguma coisa podre é um musical que vai na contramão na febre que vivemos. Para começar, tem dança, muita, boa, bem executada, sapateados, movimentos corporais, a base. Figurinos de qualidade na criação e na confecção. A acertada direção de Gustavo Barchillon equilibra o conjunto de tudo em cena.

O acerto do texto que ao ter como fio condutor uma disputa de autoria entre os irmãos Rego Soutto e Shakeaspare é dos americanos Karey Kirkpatrick e John O'Farrell com músicas de Karey e Wayne Korkpatrick. Mas, a estupenda interpretação que vemos em cena dos atores principais e coadjuvantes é a demonstração da riqueza brasileira em ter artistas ecléticos, talentosos, capazes de cantar, dançar, falar sem que se perca uma sílaba sequer, de nos fazer rir, torcer e aplaudir.

Marcos Veras completa o palco no papel principal, Nick, o dramaturgo frustrado que não consegue superar seu inimigo Shakespeare mas aposta em fazer algo novo e que comove a platéia. Essa dubiedade, cantada e dançada, acaba por ser um momento memorável na nossa cena teatral. Leo Bahia repete a competência em Nigel, o irmão poeta e apaixonado.

No conflito, o tertius é o sobrinho de Nostradamus, um vidente que prevê que o futuro do teatro será o musical. Wendell Bendelack é o mago que dá veracidade ao inverossímel. Completa o quarteto George Sauma, um Shakespeare que se revela por outro viés.

Temas paralelos como a igualdade de gênero, a intolerância religiosa e a voracidade do capitalismo estão lá no equilíbrio de interpretes como Rodrigo Miallaret, Bel Lima, Laila Garin, Diego Montez e Tony Germano, o Shylock - conjunto afinado que transforma "Alguma Coisa Podre" num vento de frescor no atual teatro.

SERVIÇO

ALGUMA COISA PODRE

Teatro Casa Grande (Av. Afrânio de Melo Franco, 290 - Leblon) | Até 5/5, quintas e sextas (20h30), sábados (19h30) e domingos (17h30) | Ingressos entre R$ 25 (meia) e R$ 200