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O clássico 'O Auto da Compadecida' volta à cidade

'O Auto da Compadecida' ganha versão contemporânea e que evita sotaques nordestinos para demarcar a universalidade do texto de Ariano Suassuna | Foto: Divulgação

A In Cena Casa de Artes e Produções leva de volta aos palcos cariocas o espetáculo "O Auto da Compadecida", famoso texto de Ariano Suassuna (1927-2014), que já ganhou diversas montagens no teatro, no cinema e na TV. Com direção da dupla Claudia Ventura e Alexandre Dantas, a peça, que estreou em novembro do ano passado, apresenta uma versão contemporânea deste clássico da dramaturgia brasileira, escrito em 1955.

Primeira produção não-musical do curso "Prática de Montagem" da escola, o espetáculo terá uma curtíssima temporada, com sessões às sextas-feiras de abril, às 20h, no Teatro Cândido Mendes, em Ipanema.

Em "O Auto da Compadecida" somos transportados para o sertão nordestino com uma trupe de circo que recria um retrato abstrato da região. Através das incríveis aventuras e confusões dos conhecidos e amados personagens João Grilo, o típico anti-herói brasileiro, e Chicó, seu fiel escudeiro, a peça aborda temas como a religiosidade popular, corrupção e desigualdade social, sempre com um tom de humor, ironia e irreverência característicos da obra de Suassuna.

Apesar de fiel ao texto, esta não é uma montagem com elementos caricaturais do Nordeste, onde a história se passa. Para narrar as trapaças e artimanhas dos protagonistas, os diretores optaram por uma encenação focada no ator e na palavra, isto é, criada a partir da relação do elenco com a obra. "O grande diferencial nesta montagem é a inspiração nas origens do circo-teatro. O elenco é uma trupe, um grupo de contadores, que chega ali para se divertir e contar essa história, sem cair no óbvio. Quisemos trazer uma encenação diferente que toque e fique nas pessoas", diz Claudia.

A ausência do sotaque foi uma das escolhas da direção, assim como o cenário e o figurino, que foram trabalhados sem muitos elementos que remetessem diretamente e/ou sublinhassem as características regionais. "O Ariano é tão genial que a estrutura das frases já evoca esse espaço físico nordestino. Por isso, não precisa ter o sotaque, o padre com a batina. Apenas evocamos esses elementos", explica Claudia. Segundo ela, a ideia é induzir que cada pessoa na plateia imagine o seu próprio cenário através da palavra, da manipulação dos objetos e do jogo de cena corporal. "A imagem do que está sendo construída em cena só termina na cabeça de quem está assistindo", conclui.

Outra preocupação dos diretores foi tentar manter a originalidade do texto de Suassuna, mas suprimindo aspectos datados, que não cabem mais ser replicados. "Estamos falando de um texto de 1955 e isso nos fez deparar com falas machistas, de um discurso patriarcal que está desatualizado. Nesses casos, optamos por suprimir algumas falas, mas sem perder a piada, claro", explica Alexandre. O mesmo foi pensado para as cenas de violência, mas, dessa vez, o artifício foi se apoiar no humor. "Outro ponto que nos deparamos foi com a quantidade de mortes. Resolvemos, então, ir na direção do humor, pra palhaçaria e teatralidade, buscando suavizar essa violência presente na trama", diz.

A montagem conta com 21 atores, entre profissionais e iniciantes, que fazem parte do curso de "Prática de Montagem" da In Cena. Nele, os alunos aprendem todas as etapas de produção de um espetáculo até sua estreia oficial no teatro. Divididos em comissões, cada grupo se responsabiliza por uma área (figurino, cenário, divulgação, produção, entre outros), o que faz com que saiam da formação com uma visão geral do que é fazer teatro para além da atuação.

Esta é a sexta Prática de Montagem que a In Cena apresentou em menos de três anos de funcionamento. Além de "O Auto da Compadecida", a escola montou "Fame", "Annie - o musical", "Legalmente Loira", "Escola do Rock" e "Nas Alturas", além da produção original "Poema", a primeira profissional da escola, vencedora na categoria "Roteiro Original" do prêmio Musical.Rio. Já "Escola do Rock" recebeu seis indicações ao prêmio, levando três deles: Melhor Ator com Pedro Balu; Melhor Atriz Revelação com Malu Coimbra; e Melhor Prática de Montagem.

SERVIÇO

O AUTO DA COMPADECIDA

Teatro Cândido Mendes (Rua Joana Angélica, 63, Ipanema)

Até 26/4, sextas-feiras (20h)

Ingressos: R$ 80 e R$ 40 (meia)

 

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